Clássicos do Aquele Tuim | Red Light (2014)



★★★★★
5/5

Anunciado em 26 de junho de 2014, Red Light estava destinado a ser um grande feito na música pop sul-coreana. Durante seu processo de lançamento e promoção, enfrentou vários problemas, como a censura da faixa principal pela KBS, que objetou o uso da palavra “caterpillar” devido a questões de marca registrada, o que resultou na proibição de publicidade indireta. Houve também controvérsias em relação ao videoclipe, onde a integrante Krystal foi interpretada erroneamente por religiosos ao queimar um livro, que alegavam ser uma bíblia. Além disso, a estreia do grupo Red Velvet gerou preocupações entre os MeU’s, os fãs do f(x), sobre o futuro do grupo; e a saída de Sulli durante o processo de promoção contribuiu para uma cobertura midiática menos entusiástica do quarteto. Apesar de tudo, desde o início Red Light estava destinado a marcar história.

Iniciando com a faixa-título, “Red Light” se destacou como um exemplo de música experimental no K-Pop: instrumentais frenéticos, ricos em detalhes, sirenes urgentes misturadas a sintetizadores criam uma atmosfera sombria, complementada pelo clipe oficial que retrata um cenário distópico e apocalíptico. A composição retrata a seleção natural de uma forma tão óbvia que por vezes se perde a distinção entre “os fracos serão devorados” e a pressão por mudança pessoal, uma metamorfose induzida. Em “MILK” nota-se o alívio da intensidade com um toque de humor após “Red Light”; é uma faixa peculiar que, desde sua introdução de apenas oito segundos, incorpora sons de briga entre gato e cachorro, vidro quebrado e um gatilho puxado, levando a um refrão chiclete enfatizando o título da canção: Meu leite, eu despejo no meu coração queimado”.

Em seguida, surge uma das pérolas escondidas do f(x), “나비 (Butterfly)”, uma faixa de mid-tempo totalmente imersiva e complexa. Com batidas pulsantes e um estilo vocal suave, evoca a sensação de aconchego, uma experiência que se revela gradativamente ao longo de seus dois minutos e cinquenta e sete segundos, revelando detalhes de forma gradual e prazerosa. A canção é suavemente cantada como uma canção de ninar, com harmonias que enfatizam um lugar aconchegante. Eu recomendo evitar ouvir o álbum na sequência mencionada, pois a transição para “무지개 (Rainbow)” pode ser abrupta. Esta faixa, misturando elementos de EDM com uma melodia urbana, exemplifica a música experimental na Coreia do Sul, dividindo opiniões entre os ouvintes.

“All Night”, com seu estilo disco-pop, recorre a elementos retrôs de forma irônica e atemporal, capturando os sentimentos de amor e alegria através de sua letra e melodias vibrantes. A canção ironiza a popularidade do disco nos anos 70 e como, anos depois, ainda há referências a essa sonoridade, embora nem sempre dominem o cenário pop como antes. Escrita pela musicista sul-coreana Kenzie, “바캉스 (Vacance)” oferece uma sonoridade refrescante, celebrando o tema das férias com referências estereotípicas de praias e sol brilhante. Em contraste, “뱉어내 (Spit It Out)” retorna com uma abordagem experimental e barulhenta, marcada por batidas distorcidas e elementos explosivos. Ao longo da faixa, destacam-se detalhes como o grito inicial e o uso contínuo do sintetizador em escalas crescentes e decrescentes, completando sua composição. E sendo, talvez, a última faixa que apela para esse lado esquisito e bastante detalhista, “Boom Bang Boom” destaca-se como uma faixa controversa e multifacetada, misturando gêneros de forma que desafia as expectativas; com elementos vocais ocultos e uma produção complexa, amplifica o efeito épico de seu refrão: “Eu voarei / Em sua cabeça / Em seu coração / Mais uma vez”.

Uma das favoritas dos ouvintes, “Dracula” evoca o estilo thriller em uma experiência imersiva e arrepiante, reforçada por harmonias vocais exageradas e uma atmosfera de horror, ainda mais quando complementada com gritos femininos durante a canção. A introdução falada em tom grave e alterado, junto com a repetição do “Tututu” no refrão, intensifica o sentimento de adrenalina. A canção é imersiva e podemos sentir em como tudo nela foi feito para ser associada, como um verdadeiro exemplo de intertextualidade. Retornando com a temática veranesca, “Summer Lover” traz um encerramento mais leve e descontraído, destacando-se pelo ritmo e acompanhamento de guitarra. Finalizando o álbum, “종이 심장 (Paper Heart)” oferece uma faixa acústica, encerrando o projeto de forma aconchegante após uma jornada intensa de sons e emoções.

O f(x) sempre foi reconhecido pela sua versatilidade e originalidade entre os grupos de k-pop. Sua carreira brilhante, agradou tanto críticos sul-coreanos quanto estrangeiros. Altas expectativas foram geradas para este disco, já que precedia o então Pink Tape, frequentemente chamado de “bíblia do K-Pop” e aclamado como um dos álbuns mais brilhantes do gênero por diversos veículos. Red Light é considerado o álbum mais intenso e experimental do quinteto, embora essa diferença não ter sido bem recebida inicialmente. Surpreendentemente, é o único disco de estúdio do f(x) que não foi reconhecido em premiações na Coreia do Sul, como o Korean Music Awards, conhecido como o Grammy coreano, por sua valorização da qualidade sobre a popularidade e a participação de críticos renomados. Apesar de não ter conquistado o público imediatamente devido à sua divergência dos padrões estabelecidos, o álbum foi posteriormente reconhecido como uma das maiores obras do k-pop e um marco na música experimental do país.

Selo: SM
Formato: LP
Gênero: Música do Leste e Sudeste Asiático / K-Pop, Eletropop, Dance-Pop
João Vitor

20 anos, nascido no interior da Bahia e graduando em Ciências da Computação. Faz parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático no site Aquele Tuim.

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