Explore um dos subgêneros de noise mais divisivos da música experimental.
De onde o Power Electronics surgiu?
Os projetos musicais de industrial dos anos 70 foram um grande marco dentro da música experimental, principalmente por explorarem a capacidade do discurso (político) dentro de formas da música popular. Um dos estilos de música que foi incorporado pelo industrial foi o Noise, um gênero que para muitos era considerado como “anti-música”.
Tentar definir noise é um tiro no pé, há muita teoria que tenta explicar a ideia do gênero e como ela foi usada ao longo de diversos projetos, mobilizado por artistas e incorporado por gêneros da música pop (como o noise rock). O importante para entender como surgiu o termo “Power Electronics” é saber que em 1982, William Bennett, membro do Whitehouse, dá esse nome pela primeira vez no encarte da fita cassete “Psychopathia Sexualis”.
A partir desse momento, Power Electronics se torna mais um posicionamento em relação à indústria do que uma forma específica de fazer música, uma técnica específica, ou um conjunto de bandas com sonoridade semelhante. Isso porque não apenas a música está atrelada ao gênero, mas alguns escritores, desenhistas e editores de zines e ativistas políticos também.
Como o Power Electronics soa?
Comentário:
Indicações:
Como dito anteriormente, é difícil buscar signos iguais entre diferentes projetos do gênero e obter muitos sucessos. As semelhanças na grande maioria deles é: atonalidade, o uso de diversas texturas por meio do harsh noise, formas diferentes de vocal (ou por meio de gritos, ou apenas declamações da letra), letras provocativas e o uso de samples e colagens de som.
O mais importante no Power Electronics é o discurso, existem álbuns e músicas do gênero que sequer possui qualquer forma de “instrumental”. O uso desse discurso, muito direto e frequentemente chocante — por causa de temas e letras perturbadoras — é talvez o que mais una todos os projetos do gênero, por isso a agressividade sonora é necessária, seja ela temática, ou instrumentalizada por meio de aspectos técnicos, ou performáticos.
A leitura de filosofia era também muito comum, apesar de ser considerado um gênero comumente associado com a direita, o Power Electronics apenas mobiliza esses discursos como forma de experimentar, ou por shock value. Alguns dos artistas mais clássicos do Power Electronics, como Philip Best, têm projetos hoje que mobilizam discursos políticos de outras formas, como os últimos lançamentos do grupo Consumer Electonics, talvez por perceber que o uso de shock values hoje já não funciona da mesma forma que há 30, 40 anos atrás.
Comentário:
“O mais interessante sobre Power Electronics é o discurso. A guerra política na prática, a falta de necessidade da poesia, a crueza do sentido e um novo significado do que pode ser a música.” — Tiago
Knees and Bones
Controlled Bleeding
Também um clássico do Power Electronics, Knees and Bones mostra bastante do aspecto mais associado à música Industrial e é um álbum com muita experimentação, o que pode sim acarretar em uma dificuldade para lidar com ele de primeira, mas é uma experiência única e que vale muito a pena ser enfrentada.
Formato: LP
Ano: 1985
Hole in the Heart
Ramleh
Ramleh é um dos projetos mais clássicos do gênero e Hole in the Heart é o disco mais reconhecido e aclamado de Power Electronics. Apesar de haver um debate a respeito de sua natureza estar mais associada ao Death Industrial que ao PE, ainda sim é indispensável e a melhor escolha de disco para conhecer o gênero.
Formato: LP
Ano: 1987
Bird Seed
Whitehouse
A começar pela capa, escrita quase integralmente da letra da primeira música “Why you never became a dancer”, aqui a ideia de Power Electronics ser principalmente discurso, cru e agressivo é claríssima. As duas primeiras músicas são fantásticas e mesmo que o gênero não venha a ser de seu gosto, provavelmente elas vão ser uma experiência muito positiva. O que afasta muita gente desse disco é a música título “Bird Seed”, uma das experimentações de colagem de Peter Sotos, um dos integrantes do Whitehouse naquele momento, que é, sem dúvidas, uma figura muito polêmica. Recomendo chegar nos experimentos dele tendo em mente o que o mesmo falou, com fascínio, sobre a autora feminista “Andrea Dworkin” e sua literatura.
Formato: LP
Ano: 2003
Primary Pulse
Grim
Uma visão mais recente e refrescante de Power Electronics, mas que não fica pra trás em nada em relação aos clássicos. Pelo contrário, é provavelmente um dos álbuns que mais pode vir a converter novos ouvintes ao gênero, devido principalmente a sua exploração interessantíssima de novas técnicas para produzir noise, sua extrema coesão e uma duração consideravelmente curta para o PE.
Formato: LP
Ano: 2018