Crítica | Bando Stone And The New World


★★★★☆
4/5

Servindo de trilha sonora para o filme homônimo dirigido por Donald Glover, além de ser o último álbum dele sob o pseudônimo Childish Gambino, Bando Stone And The New World faz uma excelente reafirmação de vários aspectos, antigos e novos, que marcaram a carreira do artista.

Se observar a discografia de Childish Gambino, veremos que Because The Internet engloba suas faixas mais pop, mas também momentos que faziam certa experimentação dentro do contexto do hip hop, enquanto que Awaken, My Love! e Atavista exploravam o ambiente do R&B em faixas com tom psicodélico curioso. Em Bando Stone And The New World há um pouco de tudo isso. Abordagens inventivas dentro do hip hop estão presentes em diversas faixas.

Veja como a introdução opera com os sintetizadores de forma singular a partir da criação de texturas industriais que, junto às baterias imponentes, constroem uma agressividade arrebatadora, de modo que “Got To Be” também usa referências industriais, aqui, porém, de uma forma ainda mais intrigante para criar uma atmosfera desesperadora.

Outro quesito curioso de Bando Stone And The New World é que este é seu álbum mais pop. Ao longo do registro, Gambino trabalha com diversos de seus subgêneros; o pop rock se faz bastante presente, há um pouco de afrobeats, além de diversas músicas que, embora exibem performances de rap, vão em uma direção extremamente pop. Por mais que para alguns essa afirmação possa parecer um demérito, por dar a entender que é seu disco mais acessível e comercial, está enganado quem pensa que, apenas por utilizar de base o estilo musical, o rapper está buscando se encaixar nas noções de consumo em massa.

Dá pra dizer que é um pop que incorpora os melhores aspectos da música popular — seu caráter melódico cativante e acessível — em canções que, ainda assim, mantêm com força o aspecto inventivo. “No Excuses” e “Cruisin” são os melhores exemplos. Aqui há momentos estruturados como músicas pop mas que trazem bastante criatividade na construção musical. A primeira usufrui do soul e jazz para elaborar uma atmosfera psicodélica, dispondo também de uma progressão que vai aos poucos incorporando mais suas influências do jazz. “Cruisin” tem texturas industriais curiosas justamente posicionadas a sintetizadores e orquestra que, juntos, criam atmosfera épica ímpar. Dificilmente vejo faixas pop conseguirem evocar essa energia de maneira tão imaginativa e, acima de tudo, que não pareça forçada — é realmente fascinante.

O álbum é marcado por diversos momentos de pop-rock, e penso que o artista consegue se ajustar bem a esse som. As músicas que seguem essa sonoridade não são nada de excepcionais, no entanto, cativam pela aparência doce. Outra faixa que se destaca por propor um som distinto ao que ele já havia feito no passado é “In The Night”, um afrobeats sedutor que conta com a participação de Amaarae, nome que ganhou certo destaque ano passado com o álbum Fountain Baby, que foi importante para o surgimento do alté, uma nova vertente do afrobeats, e que se destaca na música por torná-la ainda mais envolvente devido à sua performance carismática.

No geral, mesmo que seja a finalização do projeto artístico de Donald Glover no pseudônimo Childish Gambino, Bando Stone And The New World é uma excelente forma de construir o capítulo final de uma história já bastante curiosa. É, principalmente, a reafirmação das características mais ilustres de seu trabalho artístico, mas que também mostra o artista em abordagens diferentes que deixam o ouvinte intrigado com quais caminhos vão direcionar o rapper nos seus trabalhos futuros.

Selo: RCA
Formato: LP
Gênero: Pop / Art Pop, Experimental Hip Hop
Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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