Crítica | Darning Woman


★★★★☆
4/5

Em seu álbum de estreia, Anastasia Coope apresenta o ouvinte a um mundo onírico permeado por fantasmas que ecoam o passado enquanto a artista se projeta para o futuro. Ela tem a característica rara presente em artistas notáveis de soar contemporânea e também absurdamente clássica. Darning Woman é um disco breve com elementos característicos do folk psicodélico: as repetições, distorções e vocais etéreos sobrepostos estão presentes.

Entretanto, ela consegue utilizar esses elementos de forma original, como se nos lembrasse de que sabe onde está pisando. Coope demonstra ter domínio de até onde deseja que uma canção vá, deixando uma impressão marcante de que só estamos ouvindo o que ela nos permitiu ouvir até aqui. É difícil não se sentir curioso sobre o que mais ela pode oferecer em trabalhos futuros.

Mesmo com todo esse rigor, as características técnicas não são o carro-chefe de seu trabalho, existe algo mais misterioso por trás de toda sua técnica. Mais do que isso, é como se o subjetivo fosse incorporado a um corpo sólido. Suas letras tratam da domesticidade, do cotidiano, do feminino como sagrado. Assim como em um sonho, essas cenas nos são apresentadas em lampejos, abrindo espaço para imaginação. Sobre seu processo, a musicista e também artista visual comenta em entrevista:

“Como pintora, tenho uma conexão visual e artística com paisagens; a música também pode projetar paisagens. Há um elemento de ambientação, de criação de uma imagem. Trata-se de tentar traduzir uma representação visual da vida em som.”

É realmente tudo muito imagético e sentimental em Darning Woman, como se esse fosse o único caminho possível. “Darning” vem do inglês e significa a ação ou efeito de remendar roupas, entrelaçando os fios a fim de preencher os espaços abertos. No decorrer dos breves vinte e um minutos nos quais o disco se desenrola, a artista parece fazer mesmo isso, criar e preencher espaços. É admirável que esse se trate apenas de seu primeiro trabalho, o futuro é raramente tão promissor.

Selo: Jagjagwuar
Formato: LP
Gênero: Folk / Folk Psicodélico, Avant-Folk
Mateus Carneiro

Graduando em Letras pela UTFPR. Nutro um interesse pela exploração de diversas formas de expressão artística, incluindo a música, o cinema e outras manifestações culturais. Faço parte das curadorias de folk, eletrônica e experimental no Aquele Tuim.

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