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O novo álbum de Eminem é mais um capítulo da lore de sua carreira envolvendo seu alter-ego Slim Shady, que representa sua versão malvada e sombria. Aqui, ele parece travar uma luta com o personagem que tenta fazer as pessoas se voltarem contra o rapper, proferindo diversas ofensas de tom capacitista, transfóbico, homofóbico e por aí vai, até que o artista mata essa sua faceta vilãnesca.
Embora pareça uma premissa boba, ele utiliza desse cenário como uma metáfora para algo mais profundo: o enfrentamento dos problemas de sua vida, como os vícios em drogas e questões da paternidade. A iniciativa, em particular, de usar o plano conceitual de seu trabalho artístico para abordar seus dilemas é muito interessante, e penso que há certos momentos em que ele consegue executar bem essa proposta. As melhores faixas nesse sentido são “Temporary” e “Somebody Save Me”. A primeira, marcada pelo piano e pelos vocais melancólicos de Skylar Grey no refrão, é uma emocionante mensagem do rapper para sua filha, onde ele escreve como se estivesse morto, tentando fazer com ela se sinta acolhida mesmo após sua partida. A última é uma reflexão forte sobre como seu vício em drogas afetou negativamente vários aspectos de sua vida, principalmente a relação familiar.
Mesmo que haja bons momentos no álbum, várias escolhas questionáveis marcam a obra. A narrativa, que apresenta Slim Shady atacando todas as minorias possíveis na tentativa de fazer com que todos se voltem contra Eminem, é péssima. A intenção de fazer seu alter-ego soar chocantemente agressivo em suas declarações, provocando uma reação indignada do público dentro do conceito da obra, falha. Ao invés disso, o lado mal e sombrio de Eminem soa apenas como um homem frustrado de meia-idade reclamando que a nova geração se ofende por tudo e que tudo agora é preconceito. É apenas patético. Além disso, faixas como “Evil” e “Antichrist”, que tentam transmitir como Slim Shady ou Eminem são figuras crueis, acabam soando tão ridículas que parecem temas de vilão de algum musical de baixa qualidade.
Além das questões líricas, The Death Of Slim Shady apresenta várias músicas com produções instrumentais catastróficas, que são estridentes e, quando não, simplesmente detestáveis, pecando por terem os beats mais vazios da discografia do artista. Até mesmo a entrega do rapper, por vezes, soa indigesta, sendo que este era o principal aspecto que sustentava, de alguma forma, seu trabalho artístico. Poderia-se dizer que The Death Of Slim Shady marca não apenas o fim do ciclo da vida de seu alter-ego, mas também de sua carreira. No entanto, a verdade é que Marshall está em seu ápice de decadência artística desde Revival, de 2017, e este é apenas mais um lançamento ruim do rapper, assim como tudo o que ele tem lançado nos últimos 10 anos.
Selo: Interscope
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Hardcore Hip Hop