Crítica | For What It's Worth


★★★☆☆
3/5

Não é de hoje que o hip hop e o R&B caminham lado a lado. Desde meados dos anos 80, quando DJs e beatmakers começaram a samplear clássicos do soul e do funk para criar o ritmo característico do hip hop atual, esses dois gêneros se entrelaçam de forma permanente. Uma década depois, Mary J. Blige mudou o curso do R&B contemporâneo ao incorporar as batidas marcadas do hip hop em suas canções. A partir daí, os estilos passaram a influenciar mutuamente um ao outro — nos anos 2010, por exemplo, o trap consolidou-se como o principal condutor do trabalho de grandes artistas do mainstream, como Bryson Tiller, Tinashe e Summer Walker.

For What It’s Worth, o primeiro álbum de Corey Lingo, talvez seja o exemplo mais recente dessa relação indissociável. Construído sob a atmosfera nebulosa do plugg, um subgênero do trap caracterizado pelo uso de uma bateria compacta que se destaca pelos seus 808s subterrâneos, o registro também é fortemente influenciado pelo R&B do final dos anos 2000 — a narrativa agridoce e os vocais melosos não se afastam muito do estilo popularizado na época por Chris Brown e Justin Bieber.

É uma estética indiscutivelmente charmosa, que funciona não apenas pelo fator nostálgico, mas também pela irresistibilidade das melodias. No entanto, a repetição dessa fórmula torna o álbum bastante imersivo ao ponto de não se conseguir distinguir claramente onde cada faixa começa e termina. Em última análise, For What It’s Worth nos deixa com um questionamento: será que o plugg será a próxima vertente do hip hop a influenciar o R&B, assim como o trap fez na década passada? Não é possível afirmar com certeza, mas o disco mostra que há um potencial a ser explorado. Ainda não é uma obra definitiva nesse contexto, mas representa um primeiro passo em direção a algo maior.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: R&B / PluggnB
Marcelo Henrique

Marcelo Henrique, 21 anos, estudante e redator das curadorias de Pop e R&B/Soul do Aquele Tuim.

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