Crítica | The Golden Years


★★☆☆☆
2/5

É impossível falar de Joshua Bassett sem trazer outras duas grandes estrelas para a pauta. O romance de Bassett com Sabrina Carpenter foi o catalisador para a composição de “drivers license”, single de estreia de Olivia Rodrigo, que a alavancou para estrelato mundial e a fez conquistar três Grammys. Joshua e Sabrina se encontraram, por muito tempo, em posições parecidas, sendo vítimas dos chapiscos de fãs de Rodrigo, mas apenas a loira soube se desvincular do assunto e conseguir, mesmo que anos depois, fazer com que sua participação nessa história fosse uma memória distante. Entre a estreia do single de Olivia e o presente, Joshua se assumiu bissexual, se tornou crente, trouxe à tona um caso de abuso na infância e seguiu os trabalhos na série que o conduziu a fama. Ah, ele também lançou alguns singles e EPs, mas nada que alguém se importasse muito. Até que enfim, quatro anos depois de sua estreia musical e todo o drama, lança seu disco de estreia, The Golden Years.

É evidente que pouco se discute sobre Joshua Bassett, principalmente com o sucesso avassalador das outras duas estrelas envolvidas em toda a polêmica. Além de seu trabalho na série High School Musical, o trabalho do cantor, assim como o próprio, caiu no esquecimento. Mas o que fez com que Olivia Rodrigo e Sabrina Carpenter se destacassem tanto, e Joshua ficasse para trás? Olivia deu o primeiro passo, trazendo sua perspectiva como a vítima da situação. Seu diferencial musical em relação aos dois é seu lírico confessional e sua abordagem sonora mais pop/rock. Sabrina lançou algumas canções antes que falasse propriamente de toda a situação numa música, na qual apontou o dedo de volta para quem a criticou na ótima “because i liked a boy”, reiterando que, literalmente, ela apenas saiu com um cara solteiro. Seu diferencial musical em relação aos dois é seu senso de humor em roupagens pop modernas e nostálgicas ao mesmo tempo. Mas e quanto a Joshua?

A internet gosta de apontar um vilão em cada história dessas que envolve artistas pop. Mesmo não havendo nenhuma traição, o público escolheu Joshua como alvo do hate descomunal, um fator que foge de seu controle, mas certamente contribuiu para que fosse deixado para trás. Mas assim como Olivia tem o pop/rock e Sabrina seu senso de humor, o que Joshua tem como diferencial que pudesse ajudá-lo a se destacar? Nada. As canções de Bassett não saem do lugar, caindo sempre na mesmice. Poderiam todas ser facilmente confundidas com as canções menos interessantes de um álbum de Shawn Mendes, uma demo que Harry Styles descartou por não ser muito boa, ou um Ed Sheeran mais básico ainda.

O EP de estreia de Bassett tem faixas boas, como “Only A Matter Of Time” e “Do It All Again”, possivelmente as melhores que já lançou. Naquele primeiro trabalho, Joshua mostrava suas influências de singer/songwriter no pop, podendo seguir os passos de cantores do mesmo nicho, como os previamente citados Shawn Mendes e Harry Styles, com um pouco mais de aperfeiçoamento. Mas então, desde esse projeto, vieram mais dois EPs e dez singles, todos sem distinção significativa alguma. Acordes similares, letras que não fogem do mesmo assunto como se fosse uma o reaproveitamento da outra. Seu álbum de estreia não é nem um pouco diferente. A faixa-título é um destaque positivo, que consegue ser um pouco interessante, assim como “Would Ya Tell Me” e “Wildfire”, e é isso. Quem ouve “Cherry Blossom” se lembra da melodia requentada e cansada que já ouviu em alguma música pop antes, até que lembra de outra, e outra, e mais uma, até que já se lembrou de mais outras cinco similares.

Nenhuma das composições foge do superficial, e algumas deixam de se aprofundar em temas que as tornariam interessantes, mesmo já tendo sido vistas em inúmeras músicas de outros artistas que as interpretaram melhor. The Golden Years encontra um ponto de segurança nas canções guiadas pelos acordes de violão e letras sobre romances, mas não consegue ser nada além disso. Joshua falha, inclusive, em replicar as fugas de rota de suas referências, e o seu disco não mostra nada de diferente do que qualquer garoto com um violão na mesma faixa de idade dele poderia fazer, o que não seria um problema se a obra fosse pelo menos boa.

Selo: Warner
Formato: LP
Gênero: Pop
João Agner

joão agner (2003) é escritor e graduando de jornalismo. Escreveu sua primeira história aos oito anos, e tem explorado diversos formatos desde então, como não ficção e poesia. Decidiu que queria ser jornalista e falar de música quando ouviu o disco "Melodrama", de Lorde, pela primeira vez.

Postagem Anterior Próxima Postagem