Crítica | Guilty Pleasure


★☆☆☆☆
1/5

Em entrevista à Billboard em abril, JoJo Siwa afirmou com convicção: “Eu quero iniciar um novo gênero musical. Chama-se ‘gay pop’”. A declaração delirante da ex-estrela mirim do reality show Dance Moms gerou repercussão nas redes sociais. Usuários criticaram a noção limitada da cantora sobre a influência de décadas que artistas LGBTQIA+ têm na música pop.

Três meses depois, a chegada do EP Guilty Pleasure não configurou como o nascimento do novo gênero, mas sim de algo muito pior. Cinco faixas são o suficiente para atestar o delírio coletivo de todos que acreditaram na idealização do projeto. Inspirada por outras transições de estrelas mirins para um som mais adulto, como a de Miley Cyrus na era Can’t Be Tamed, JoJo apresenta dificuldade para se desvencilhar da imagem infantil.

Em “Karma”, primeiro single do EP, um eletropop datado do final dos anos 2000 embala uma infidelidade sáfica que causaria burburinhos na turma B do 9º ano. Já “Balance Baby” e “Yesterday’s Tomorrow’s Today” são tentativas desesperadas de adicionar profundidade lírica ao projeto, mas que são tão vazias quanto os breaks que dão início a seus refrões.

Da prateleira de synthpop da farmácia, JoJo escolheu o genérico “Choose UR Fighter”, que piora qualquer sintoma de náusea — além de fazer com que “Boys Don’t Cry” da Anitta soe como algo original e genuíno. Algo semelhante ocorre com a faixa título, “Guilty Pleasure”, em que a cantora não instiga muito prazer, mas uma culpa considerável. O DJ White Shadow, responsável por numerosas faixas de ambos Born This Way e Artpop da cantora Lady Gaga, é o réu acusado de produzir a faixa, o que, com o agravante de também ter produzido “Karma”, o levará a ser condenado a esconder o projeto do currículo de forma perpétua.

Na tentativa de criar um novo gênero musical, JoJo Siwa sequer consegue fazer música. Guilty Pleasure é um compilado de decisões equivocadas que só teve atenção graças a uma estratégia de marketing que trata a artista como uma piada para o público. Não seria surpreendente vê-la com uma roupa nude de látex dançando com ursinhos no palco do Kid’s Choice Awards em sua próxima era.

Selo: Columbia
Formato: EP
Gênero: Pop / Eletropop, Synthpop
Tobia Ferreira

Emo de banho tomado e quase jornalista cultural. Graduando em Jornalismo pela USP e repórter do Aquele Tuim, em que faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica e Funk e R&B e Soul.

Postagem Anterior Próxima Postagem