Crítica | Kansas Anymore


★★★☆☆
3/5

Não há nada mais definitivo na carreira de um artista pop que o fim de um romance. É onde o público realmente se conecta, e quando acabam conseguindo seus maiores hits. Hoje em dia, a definição de hit se torna cada vez mais turva — alguns artistas se satisfazem com um viral no TikTok. Afinal, quantas vezes você já ouviu um amigo dizer que tal música “hitou no TikTok”? Se preferir seguir por esse lado, ROLE MODEL já conseguiu alguns. Agora em seu segundo álbum de estúdio, Kansas Anymore, o norte-americano lida com o coração partido com uma roupagem criativa diferente do que já apresentou antes.

O novo disco é um álbum pop mais orgânico que o que costuma entregar, com instrumentações se apoiando em guitarras e elementos de banda, muito diferente da abordagem de seu antecessor Rx. Aqui os versos acelerados, batidas de trap e flertes com rap são deixados de lado, e no lugar ficam os vocais em camadas, momentos fortes de guitarra e influências country e folk. Essa repaginada sonora ainda consegue manter a essência das canções mais marcantes de ROLE MODEL, seja nos vocais característicos ou nas composições líricas.

Se Rx era um álbum sobre estar apaixonado, Kansas Anymore é sua antítese. O disco nasceu a partir de seu término com Emma Chamberlain, que é referenciada no álbum tanto pelo signo em “Oh Gemini”, primeiro single e melhor canção dentre as treze, quanto pelo nome do meio em “Frances”. “The Dinner”, faixa central do projeto, marca as urgências de Tucker em retornar à sua cidade natal e fugir da superficialidade de Los Angeles em um arranjo country clássico. “Superglue”, segundo grande destaque do álbum, se aproxima mais do pop/rock. Mesmo que algumas canções não brilhem tanto quanto outras, ROLE MODEL cria uma atmosfera acústica que aconchega o ouvinte, oscilando entre momentos mais energéticos e serenos, mas sempre introspectivos.

Kansas Anymore é um projeto sólido, e se expande de forma muito mais criativa que seu antecessor por mergulhar no inevitável ganho de maturidade que acompanha o fim de um relacionamento. Enquanto Rx celebrava a ingenuidade no início de um amor, o novo trabalho de ROLE MODEL se centraliza na melancolia de copos vazios, companhias questionáveis e busca por superação, ou até mesmo indiferença. A mudança em sua sonoridade característica poderia ter sido um risco se, mesmo com poucos passos em falso, não soasse natural como o que é encontrado aqui.

Selo: Interscope
Formato: LP
Gênero: Pop / Rock
João Agner

joão agner (2003) é escritor e graduando de jornalismo. Escreveu sua primeira história aos oito anos, e tem explorado diversos formatos desde então, como não ficção e poesia. Decidiu que queria ser jornalista e falar de música quando ouviu o disco "Melodrama", de Lorde, pela primeira vez.

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