Crítica | Passe


★★★★☆
4/5

Passe é um álbum que se aventura por paisagens sonoras psicodélicas, capturando tensões raciais, sociais e injustiças. Gravado de forma caseira e improvisada, durante a turnê da banda Oruã, o disco revela uma combinação de elementos como vocais etéreos, distorcidos e por vezes manipulados, além de guitarras carregadas, bateria pulsante, sintetizadores oníricos e um baixo que harmoniza de forma visceral.

A estética lo-fi contribui para sua característica crua e menos polida, repleta de ruídos e distorções sutis que adicionam textura e profundidade. Aqui notamos alguns delays que fazem com que as reverberações sejam utilizadas extensivamente para criar um lugar imersivo e viajante, característica que faz com que a banda tenha um imenso aproveitamento musical. As faixas, longas e estruturalmente não convencionais, abrem espaços para improvisações e instrumentais que fluem organicamente. Por vezes, a guitarra surge pronta para dominar todos os lados das músicas, mesclando-se levemente com o baixo, enquanto as peças se desenvolvem em constante crescimento e, quando menos se espera, quebram, mantendo uma tensão que paira sobre o trabalho o tempo todo.

É um exemplo marcante do que chamo de irrompimento, com uma sonoridade densa e assertiva, visualmente evocando a sobrecarga de informações. À medida que a melodia se intensifica, incorporando diferentes sons, eventualmente desacelera, misturando o caos com momentos de contemplação, oscilando entre o íntimo e o expansivo.

Selo: Transfusão Noise
Formato: LP
Gênero: Rock / Música Brasileira, Jazz
Brinatti

Cientista Social com ênfase em Antropologia e Sociologia, 27 anos. É redator e repórter no Aquele Tuim, participando das curadorias de Funk e Pop.

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