Crítica | "Pfv Amor"


★★★★☆
4/5

Fortemente baseada em dissonâncias, “Pfv Amor” é uma música difícil. Sua natureza cartunesca e hiperbólica leva a uma insanidade mental repleta de ruídos; é um compilado desconexo de industrialismos-pop — um alô à SOPHIE — frequentemente interrompidos por garranchos, glitches, bleeps e rasgos eletrônicos. Esses elementos se misturam de forma cativantemente desorientadora, mas — infelizmente — nunca totalmente desconexa. A noção de ritmo é bravamente desconstruída ao seu ponto zero, mas não chega a ser descartada à exemplo de como d.silvestre fez em seu mais recente disco.

É uma raridade atingir tamanho caos sem recorrer a truques baratos como distorção extrema, BPM espalhafatosamente acelerado ou mescla tediosa de gêneros; é um registro surpreendentemente especial. Lançar uma música assim, movimentada por dezenas de camadas em ritmos isolados, cheia de flertes com a música experimental — incluindo o funk —, de difícil acesso, tão estranha, leva uma coragem admirável. Talvez “Pfv Amor” seja apenas um exemplo terrível de como exercitar inacessibilidade, mas, ao meu ver, ela supera a necessidade de se afirmar como “superior” através do ridículo, tornando o que poderia ser um pé no saco em algo divertido, escutável e que eleva, mesmo que só um pouco, as discussões atuais do que significa reconstruir o eletrônico. O Brasil precisa de mais disso!

Selo: Matula
Formato: Single
Gênero: Eletrônica / Deconstructed Club, Hard House
Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

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