Crítica | Santa Rosa


★★★★☆
4/5

Existe uma grande variedade de álbuns no rap nacional que trazem questões mais íntimas para a música, tem uma essência contemporânea nessa forma de abordagem. O artista aracajuano andreblves, também produtor do álbum Santa Rosa traz sua perspectiva para essa tendência.

Bastante influenciado por artistas do boombap brasileiro como Makalister e Kamau, Santa Rosa contém uma abordagem lírica suntuosa em suas músicas, algo já evidenciado no começo do álbum, por meio de uma lira cujo contraste entre a intimidade e o diálogo direto com o ouvinte se dá por meio da linguagem poética, que nos força a adentrar o universo dessas letras, se colocar na posição do artista e entender o que significam essas palavras.

Há também um ar de nostalgia no disco, mesmo sendo sobre um assunto recente, a espacialidade do álbum (ser sobre um acontecimento posicionado no passado), e a escolha de samples, desde os que são de MPB mais clássicos, até os áudios gravados. O próprio boombap nos remete a uma forma de nostalgia musicada muito específica. Nesse sentido a produção é muito especial, tudo soa como uma conversa e é agradável de escutar, o que demonstra a maestria de cada uma das escolhas de produção.

Para além disso é necessário destacar a vivacidade do álbum. Os acontecimentos são reais, mesmo sendo um trabalho íntimo, que remete muito a vivência pessoal de andrebves. Não é necessário conhecê-lo pra entender, muito menos ver pra crer — e essa é a magia de uma boa articulação em uma obra de arte. Diante disso, a própria interpretação do artista ao declamar, rimar, ou cantar suas letras é fantástica; ao final de tudo ele diz que foi nesse disco que debutou, o que é assustador visto a sensibilidade que há nesse debut.

Selo: marÉvazante
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Boombap
Tiago Araujo

Graduando em História. Gosto de música, cinema, filosofia e tudo que está no meio. Sou editor da Aquele Tuim e faço parte das curadorias Experimental, Eletrônica, Funk e Jazz.

Postagem Anterior Próxima Postagem