Crítica | “Satellite Business 2.0"


★★★★★
5/5

Uma das vozes mais promissoras e deslumbrantes do R&B dos últimos quinze anos — quase a representação sonora de um crisântemo branco —, Sampha deixou o mundo de queixo caído com seu último álbum, Lahai. Este trabalho é uma excursão através de mini-narrativas que giram em torno de linhagens geracionais, conexões familiares e extrafamiliares, pequenos mundos de orvalho a cada amanhecer e muito mais. Para continuar o ciclo de um dos melhores álbuns de R&B desde Blonde, o artista decidiu lançar uma impressionante repaginação de um dos interlúdios do álbum, “Satellite Business”.

“Satellite Business 2.0” não é uma mera versão extendida; é uma virada de tabuleiro, um projeto que redimensiona por completo os sentidos que a música original conferia ao álbum. A faixa é uma busca por espiritualidade além-Terra, tanto na intenção metafísica quanto na tentativa de encontrar um novo significado fora do planeta. No fim das contas, a completude terrena esgotou-se há muito tempo; restam apenas reciclagens e papeis-machê de ideias. Como Sampha desenvolve: “Looking at my phone, stuck going through the images / Looking in the mirror, I can see a limit / I can see my body, I can feel a difference”.

Os sintetizadores galácticos, os pequenos e suntuosos pads e o característico piano de Sampha vão, gradualmente, construindo um pano de fundo para suas reflexões, até que os pensamentos se tornam volumosos demais para serem contidos em um pequeno recipiente; e a linha de composição se entrega a grandiosidade como válvula de escape. É uma canção que se torna mais bonita à medida que se constrói, até que a seção final dos vocais de Sampha se modula ao que se assemelha a um universo inteiro de possibilidades, finalmente transgredindo as ideias do mundo e alcançando o que o espaço nos reserva. Poucos cantores alcançam o seu nível de detalhismo e perfeição musical do artista, mas talvez esse seja um problema: ser um pouco perfeito demais. De qualquer forma, nem tudo precisa atingir seu potencial artístico máximo; a pura inspiração que as palavras de Sampha proporcionam já é o suficiente.

Maybe there’s no ends, maybe just infinity / Maybe no beginnings, maybe just bridges

Selo: Young
Formato: Single
Gênero: R&B / Neo-Soul, Art Pop, Dub
Sophi

Sophia, 18 anos, estudante e redatora no Aquele Tuim, em que faço parte das curadorias de Rap e Hip Hop e Experimental/Eletrônica e Funk.

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