Crítica | “Woman's World”


★★☆☆☆
2/5

Katheryn Elizabeth Hudson sempre teve um estilo que corre muito na direção do inortodoxo, exagerado. O Perry de seu nome artístico vem do nome de solteira de sua mãe Mary, numa rima quase boa demais pra ser verdade. Katheryn nunca se distanciou de questões feministas e LGBTQIA+, apesar de seu contexto familiar majoritariamente cristão protestante, e de muitas de suas canções (entre elas o hit de sucesso “I Kissed A Girl”) apelarem – talvez focarem – nessas minorias.

Depois de ter percorrido sonoridades eletropop, gospel, pop rock e pop, Katy chega ao décimo sexto ano de carreira mainstream apostando ainda mais no empoderamento feminino, com imagens que relembram desde as suffragettes até We Can Do It! de J. Howard Miller, passando por estéticas parecidas com Satisfaction de Benny Benassi (que aqui é subvertido num Girl Power absolutista – e estaremos apoiando a diva!) e pelos ícones da vênus e do útero (numa visão bastante cisnormativa, mas ninguém é perfeito!). “Woman’s World” é um pop chiclete que aposta num refrão fácil de memorizar, e em esquemas que relembrem que o caminho foi árduo, violento, mas graças a ele hoje se pode cantar "You better celebrate’ / Cause baby we ain’t going away" a plenos pulmões e dizer que assim como Katy, mulheres são enviadas celestiais, e acima de tudo, inteligentes.

É claro, nada disso passa de um simulacro de feminismo, tanto quanto a ironia descrita aqui. O clipe de "Woman’s World" é quase jocoso, ao ponto de no momento em que o som é interrompido por uma bigorna caindo do céu — essa sim, talvez enviada celestial — vir a cabeça o pensamento de que era tudo uma grande piada, um esquema, e que a música verdadeira vai enfim começar. Nada muda. A triste tentativa datada de Katy de reafirmar um ponto egocêntrico, beirando o excludente, com suas linhas escritas por uma maioria de homens, suas imagens uterinas, a levada body positive — que a própria Katheryn não demonstra acreditar muito — tenta ir longe mas voa curto, numa trajetória que se assemelha muito à segunda metade da carreira de Katy Perry. A música tem créditos de produção de Aaron Joseph, Rocco Did It Again!, Vaughn Oliver, e Dr Luke¹.

Selo: Capitol
Formato: Single
Gênero: Pop / Dance-Pop, Eletropop
Pedro Piazza

Pedro, 21 anos. Cursa psicologia e tem uma quedinha pelas abordagens mais abstratas. Ama todos os tipos de arte e em especial a música, que guarda um lugar essencial em sua vida, principalmente as mais barulhentas. Parte da curadoria de MPB e hip-hop no Aquele Tuim

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