Crítica | Y2K!


★☆☆☆☆
1/5

Para mim, a principal qualidade do trabalho de Ice Spice sempre foi servir às vezes como uma trilha sonora divertida para festas. As músicas de seu EP não tinham a pretensão de ser nada grandioso e, na verdade, eram até um tanto repetitivas, mas demonstravam seu grande carisma, o que tornava o disco sedutor, embora com grandes falhas. A estreia da artista, no entanto, é tão ruim que não consegue até mesmo mostrar a rapper como um nome que sabe animar o público com suas músicas descontraídas.

Nos melhores momentos do disco, ela adota seu flow comum que até funciona, mas soa demasiado cansativo e sem energia, ainda mais se comparado a diversas rappers femininas com proposta musical similar, que são carismáticos e muito mais intensos que o de Ice Spice. No entanto, posso nem mesmo falar que ela não tenta inovar na sua entrega, apresentando notas vocais diferentes ao longo que são perceptíveis ao longo da obra. O problema é que a tentativa de explorar mais sua voz geralmente não surte efeito algum.

“Popa”, “Bitch, I'm Packin” e “Plenty Sun” adotam performances propositalmente roucas e acabam sendo indigestas porque Ice Spice não adapta bem esse registro ao fluxo da música, que se arrasta e, pior que isso, faz com que a artista passe longe de parecer uma rapper respeitável, aliás, essas faixas soam como uma criança de 10 anos brincando de rap. Há também momentos em que ela tenta apresentar uma entrega mais agressiva, como “Gimmie A Light” e “Think U The Shit (Fart)”, porém, além de sofrerem com um fluxo péssimo, acabam sendo ridículas porque a intensidade apresentada parece muito falsa, principalmente acompanhada das composições desleixadas que mal dialogam com o tom feroz pretendido aqui.

“Did It First” é o único destaque de todos, marcado pela excelente produção que traz os bumbos de jersey club junto a um sample muito bem ajustado e suficiente para construir uma atmosfera suave — é genuinamente refrescante. De resto, Y2K! é um dos projetos mais detestáveis do ano, em que Ice Spice falha miseravelmente ao dispensar até mesmo o potencial de ser ao menos divertido.

Selo: Capitol
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Drill
Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

Postagem Anterior Próxima Postagem