Crítica | CAOS


★★★☆☆
3/5

MAKHNO é um dos nomes mais interessantes do funk como produto da música experimental. Suas criações não só desafiam noções básicas de gênero e teoria, como também conseguem sempre decupar e fortalecer os meios pelos quais a intensidade de significado, criação e exposição se sobrepõem ao mero capricho de estabelecer novidades a partir do que já existe.

Daria pra dizer que se trata de uma engenharia reversa, mas vai além de qualquer explicação lógica. Seu novo EP, CAOS, exemplifica bem o modus operandi do produtor: são colagens propositalmente adversas, que mal abrem brechas para uma única absorção. Essa proposição musical anda de mãos dadas com expressões líricas/vocais tipificadas por um aspecto secundário do funk, mas aqui ganha um tom único de profundidade: MAKHNO está protestando.

Na verdade, não é bem assim... A música de protesto pouco equivale à força de expressão que temos no funk hoje. Putaria? Há aqui, mas há também uma forte convicção e propriedade em expandir o discurso. MAKHNO denuncia a repressão policial, a política de extermínio do Estado e a recente, mas antiga e já conhecida, manutenção da força policial paulista, aparato ideológico das elites que continua operando a todo vapor sob o governo de extrema direita liderado por Tarcísio.

CAOS caminha nessa direção, mas não o faz completamente. E talvez seja aí que esteja a sua dificuldade de adequação temática e sonora. Diferentemente de seu álbum anterior, MAKHNO I, um dos melhores lançados em 2024 até agora e destaque em nossa lista de funk do primeiro semestre, MAKHNO pouco avança em sua marca de sequestrar — no bom sentido — e dar vida a signos já conhecidos do funk e da música eletrônica.

Sua referência a Aphex Twin se limita a apenas duas faixas, “APHEX TUIM 2 X A POLÍCIA CHAPA” e “APHEX TUIM 2”, que são suficientes e, sem dúvida, o melhor que ele tem a oferecer. Se alguém me perguntar o que é “tuim”, mostrarei que isso é tuim e que MAKHNO sabe fazê-lo como ninguém — mesmo quando se concentra em denunciar, questionar e prestar um importante serviço ao alocar referências externas à putaria e à alucinação dos bailes funk.

Selo: Independente
Formato: EP
Gênero: Funk / Experimental
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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