Crítica | Flower of the soul


★★★★☆
4/5

A bossa nova e a música folk orquestrada, conhecida como folk de câmara, apesar de contemporâneas, não compartilham o mesmo cenário cultural e político. O folk de câmara acrescentava orquestras e mais ornamentações ao estilo voz e violão que teve uma nova roupagem nos anos 1950. Muito do estilo de violão mais orquestra surgiu no Reino Unido. Já a bossa nova surgiu como um novo jeito de fazer samba, em festas em apartamentos da Zona Sul do Rio de Janeiro, com uma levada mais cool do violão, sob influências de jazz.

Para a jovem cantora e compositora inglesa Liana Flores há bastante em comum ambos os estilos, que são pilares de sua artisticidade. O gênero brasileiro de Tom Jobim e João Gilberto fez grande parte de sua infância. Sua mãe possuía discos de vinil de Caetano Veloso, Gal Costa e João Gilberto. Já o folk foi apresentado a artista em sua adolescência, através de um antigo namorado, por artistas como Nick Drake, Joan Baez e Vashti Bunyan. Esta última ecoa na música de Flores, pelo seu jeito pastoral de cantar e compor.

Seu primeiro trabalho de estúdio, Flower of the Soul, casa de forma bela e especial a união desses dois estilos. Logo em sua estreia, Liana acerta nessa união, se saindo bem tanto na bossa, em canções como “Now and Then” e “Butterflies”, com participação de Tim Bernardes, quanto no folk, como em “Nightvisions”. A produção, junto da própria Liana, é de Noah Georgeson, grande colaborador da extraordinária Joanna Newsom. Com eles, há o renomado cellista brasileiro Jaques Morelenbaum, que toca e arranja algumas das canções.

No universo de Liana Flores, bossa e folk caminham juntas pela força de criar músicas apenas na voz e no violão. É como um encontro de brasileiros no meio de uma fazenda inglesa. Vashti Bunyan encontra Nara Leão em um bosque encantado. Porém, não fica o encontro forçado de bossa inglesa, ou folk brasileiro. Tudo é feito naturalmente e Liana não tenta ser nada além dela mesma, em composições românticas e suaves. Facilmente, uma revelação de 2024, que deixa o ouvinte com curiosidade do que vem pela frente.

Selo: Verve
Formato: LP
Gênero: Folk / Pop, Bossa Nova
Vinicius Corrêa

Estudante de Jornalismo, 22anos. É colunista da Agência UVA e apaixonado por música. Faz parte da curadoria de Experimental, Eletrônica e Funk e Folk e Country do Aquele Tuim.

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