Crítica | Hex


★★★★☆
4/5

Hex não é um álbum típico de música pop, nem mesmo de música eletrônica, embora seja um álbum que obviamente faz parte de ambos. O que tem de diferente nesse álbum, que está presente em pouquíssimos do ano, é a exigência de que você tem que levá-lo a sério como música. Você precisa estar disposto a encarar essas 2 horas do começo ao fim, o que não é novidade para os fãs de DJ Sabrina, bastante conhecida por lançar materiais longos. Mas o que destaca esse novo lançamento é sua consistência e variedade.

Ainda é um álbum de house, assim como os outros da produtora, ainda é um lançamento que remete muito ao eletrônico kitsch dos anos 90, que é sua maior influência. Porém, também é um álbum com muitas explorações de textura e formas de produção diferentes, que vão desde as mais radicais, com influências do plunderphonics, até algumas mais relacionadas à música eletrônica mais pop. No geral, é sim um álbum bastante acessível, não assustaria ninguém se qualquer uma dessas músicas fossem tocadas individualmente.

O que vai incomodar mesmo é essa acessibilidade não se curvar a um padrão de “consistência” tão exigido hoje na música pop, escapar de um tempo convencional do que um álbum pode ter hoje em dia. E isso também está na música, de uma forma ou de outra, se DJ Sabrina consegue evocar esse sentimento de familiaridade e simplicidade em sua música é através de pura habilidade. Pois o ouvinte atento consegue perceber a quantidade técnica necessária, o absurdo controle de cada sample e cada camada de som presentes ao longo de todas as faixas. Pode ser que pareça cada vez mais difícil se relacionar com álbuns muito longos, mas é necessário que álbuns como Hex existam para lembrar que vale a pena se conectar com eles.

No fim das contas, é muito mais divertido passar tanto tempo com um álbum tão lindo do que o pouco tempo que poderia ter sido gasto com outros lançamentos. Aqueles que não te dariam a mesma quantidade de variações instrumentais, que não soariam como se a artista estivesse tocando em seu quarto, que você sente cada escolha feita milimetricamente, que apesar de ser um caos na quantidade de elementos, te emocionam quando você presta mais atenção e percebe um sample que tinha passado despercebido até então.

Logo no começo de "Deep Down" há uma combinação de vários vocais diferentes, além de um sintetizador que soa como a voz típica de Grimes em algumas faixas, provavelmente tiradas de três músicas diferentes. É talvez uma das sensações mais eletrizantes do ano, impossível passar por ela sem pensar no que está acontecendo. Ou seja, acima de tudo uma experiência, muito mais do que apenas música.

Selo: Spells On The Telly
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / House
Tiago Araujo

Graduando em História. Gosto de música, cinema, filosofia e tudo que está no meio. Sou editor da Aquele Tuim e faço parte das curadorias Experimental, Eletrônica, Funk e Jazz.

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