Crítica | Imaginal Disk


★★★★★
5/5

É uma preciosidade encontrar artistas e bandas que, em todo lançamento, apresentam algo que é, no mínimo, interessante e, no máximo, perfeito. Até certo tempo, Magdalena Bay ficaria no meio termo dessa possibilidade, o que pode ser considerado bem acima da média do esperado no âmbito pop, atualmente regado pela monocromaticidade e austeridade. Formada por Mica Tenenbaum e Matthew Levin, que se conhecem desde a adolescência, a banda é colorida e cheia de vigor, criatividade e vida.

Imaginal Disk, seu mais novo trabalho de estúdio, se sustenta pelo hype dos singles que precederam seu lançamento. A alta expectativa por parte dos fãs foi uma escalada ao Monte Fuji, com quatro singles impecáveis: a influenciada pelo Madchester “Death & Romance”, a clássica do synthpop “Image”, o progzão “Tunnel Vision” e a agitada e funkeada “That’s My Floor”. Porém, isso poderia gerar uma dúvida do que viria em um álbum de estúdio, que tem o dever de apresentar uma coesão, mesmo com experimentalismos e outras piruetas ecléticas. Essa dúvida não aconteceria com Magdalena Bay, que tem o ecletismo como parte de sua identidade e combustível de seus projetos.

Desde a série de mixtapes mini mix 1, 2 e 3, isso já era uma figurinha repetida e esperada. Na verdade, esse ecletismo existe desde antes da formação do duo, quando Mica e Matthew ainda faziam parte da banda de rock progressivo Tabula Rasa. Essa linha mais progressiva foi deixada de lado com o nascimento pop de Magdalena Bay, incluindo o seu último álbum, o delicioso Mercurial World, que é extremamente oitentista. Já em Imaginal Disk, na faixa “Tunnel Vision”, Mica e Matthew perceberam a necessidade de olhar o passado progressivo e artístico para desenvolver algo novo, o que rendeu uma concorrente para a melhor música de toda a sua discografia, em um ranking acirrado.

Sonoramente, Imaginal Disk é costurado pela atmosfera lisérgica, com um quê hipnagógico e noventista. As paisagens sonoras são de fundos coloridos em séries de ficção científica dos anos 90, ou de imagens usadas no vaporwave, em capas do Telepath. Além disso, é perceptível um singelo direcionamento ao pop e indie rock, também, dos anos 90, de grupos como The Stone Roses e Primal Scream. Essa junção de cores e dimensões ajudam a ampliar o que já era bom em seus primeiros EPs e mixtapes — aqui, Magdalena Bay vai mais fundo, com a extrapolação belíssima do arco-íris da banda. Imaginal Disk é menos convencional que Mercurial World, porém, isso está longe de ser um demérito para o álbum anterior. Enquanto o disco de 2021 executava a linearidade pop de forma perfeita, o novo trabalho de Mica e Matthew expande essa perspectiva para um universo ainda mais colorido, dessa vez, por caminhos surreais e tortuosos.

O inesperado é o que motiva a dupla a continuar, e isso é um lucro para um artista inserido num meio em que tudo parece soar igual e manufaturado numa cadeia industrial que enxerga arte apenas como produto. Por isso, a união de Mica e Matthew parece um alívio. Apesar de ainda estar bem preenchido pelo nicho indie, Magdalena Bay traz vigor ao que pode ser chamado de pop e, por mais que sua presença torça o nariz de fãs de artistas com maior abrangência, Imaginal Disk mostra que sua genialidade já pode ser comparada a famosas duplas do pop eletrônico, como Eurythmics, Pet Shop Boys e The Knife.

Selo: Mom+Pop
Formato: LP
Gênero: Pop / Pop-Rock, Neo-Psicodelia
Vinicius Corrêa

Estudante de Jornalismo, 22anos. É colunista da Agência UVA e apaixonado por música. Faz parte da curadoria de Experimental, Eletrônica e Funk e Folk e Country do Aquele Tuim.

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