Crítica | One Day


★★★★☆
4/5

É bastante comum que a música eletrônica busque reproduzir sentimentos e emoções hipnóticas que transcendem espaços do nosso imaginário; de fato, essa é uma das intenções mais genuínas quando falamos de produção musical não baseada em vocais, letras e estruturas convencionais. No entanto, são poucos os álbuns que alcançam bons resultados nessa busca por recriar cenários sem se apegar a maneirismos ou caminhos excessivamente fáceis, como costumam fazer as vertentes mais acessíveis do house e do techno.

One Day, o álbum de estreia de Loidis, projeto do produtor Huerco S. (Brian Leeds), se expressa de forma tão convincente ao dominar as quatro paredes de uma hipotética boate que acerta em cheio na construção de um ambiente noturno e figurativamente sensível. Essa proposta pode ser notada logo na faixa de abertura, “Tell Me”, que simboliza todo o álbum não só por ter sete longos minutos, mas também por conter a sutileza do produtor em tecer momentos dançantes e equilibrados ao mesmo tempo — características importantes do minimalismo que cerca obras baseadas no microhouse.

Mas, diferentemente da maioria, One Day busca, na verdade, uma complexidade de emoções diretamente ligadas ao apelo estético de Huerco ao compor camadas com relevo, constantes e imutáveis, as quais podem ser facilmente notadas ao longo do álbum. “Dollarama”, por exemplo, parece mergulhar em um mar profundo de ambient techno, com ondas que sacodem os pisos móveis em uma superfície 3D. Tamanho estímulo só funciona graças ao design de som limpo, que se desenrola com uma naturalidade melódica vulnerável e capaz de se relacionar muito bem com a atmosfera quente e vaporosa — é o momento em que as pistas de dança se tornam uma deliciosa sauna.

Selo: Incienso
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / Microhouse
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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