Crítica | Ontem Eu Tinha Certeza (Hoje Eu Tenho Mais)


★★★☆☆
3/5

Quando "Acorda Pedrinho" se tornou onipresente nas redes sociais há dois anos, a banda Jovem Dionísio parecia destinada a dois caminhos: ser uma das mais promissoras do pop nacional ou uma das mais perturbadoras e odiadas. Com uma ótima criatividade lírica e sonora, fugindo das já óbvias referências ao funk e à eletrônica, explorando o lo-fi e o disco, tudo apontava para a primeira opção. No entanto, a rápida exaustão digital fez o single se tornar trilha de vídeos sobre bolo de pote, salões de beleza e academias. Além de ter recebido um dos destinos mais trágicos que uma música pode ter: virar tema de atléticas de faculdade. Era perceptível o triste destino que o grupo teria dali em diante.

Os membros Bernardo Pasquali, Fufa, Gustavo Karam, Ber Hey e Mendão tinham apenas uma chance de se provar. E, logicamente, isso aconteceria no temido segundo álbum. “Ontem Eu Tinha Certeza (Hoje Eu Tenho Mais)”, lançado em maio deste ano, segue com as produções minimalistas do bedroom pop, instrumentais sintéticos muito bem trabalhados e boas sacadas e ironias nas composições. Mas, desta vez, com um pouco mais de sofisticação, maturidade e melhor curadoria (Arnaldo Antunes recitando Paulo Leminski, incrível).

A ótima e criativa “to bem”, por ironia do destino ou não, caiu no gosto do algoritmo e tornou-se o carro-chefe de todo o projeto. E, de certa forma, resume bem a direção criativa presente em todo o disco, feita por todos os integrantes do grupo, que optaram por seguir independentes em prol da liberdade criativa. Infelizmente, apenas a primeira estrofe teve seu momento de fama nas redes, o que já pode ser suficiente para alçar a música ao panteão de produções subestimadas deste ano.

No geral, o projeto conta com mais acertos do que erros. Seus erros são, na maioria das vezes, músicas que não serão memoráveis o suficiente ao ponto de fazer com que você queira ouvi-las novamente depois. Mas aqui vale o destaque para “Fato Curioso”, uma música ao estilo Gabriel, O Pensador, que mescla o groove funk com o indie rock e a ironia noventista de uma forma bem descolada para os dias atuais. Assim como a abertura quase-rock, quase-a capella, “Tartarugas”; a R&B “eu preciso te dizer que”; e “sinto muito (demo)”, com participação do grupo Menos É Mais. Um grande exemplo para o Rubel de como se apropriar de um gênero tipicamente popular e brasileiro sem soar como um recente aluno de história da PUC se encantando com a cultura do subúrbio.

Definitivamente, o segundo registro da banda curitibana está longe de entrar para o rol das obras-primas lançadas após grandes estreias. Mas, como um álbum que repensa o pop, o indie, a nova MPB, ou seja lá como queira classificá-los, trazendo uma identidade nova e um som bem característico, ele cumpre bem o seu papel. É uma jornada justa e otimista, o que me leva a confirmar aquele pensamento de dois anos atrás: na época, eu tinha certeza de que Jovem Dionísio poderia se tornar uma das bandas mais promissoras da música pop brasileira. Hoje, tenho ainda mais.

Selo: JD Produções
Formato: LP
Gênero: Pop / Pós-MPB, Bedroom Pop
Pedro Alonso

23 anos. jornalista, carioca. gosta de música, cinema, cultura, política e sociologia.

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