Crítica | Radio Yugawara


★★★☆☆
3/5

Arrepiante, Radio Yugawara é uma das exibições mais delicadas de música ambiente dos últimos anos. Feito sob medida pelo Passepartout Duo durante um processo de pesquisa de campo apelidado de "slow music", que envolve as infinitas possibilidades criativas ao redor do mundo, foi no Japão que Nicoletta Favari e Christopher Salvito encontraram um novo ponto de partida, uma nova maneira de prosseguir com seu trabalho que transcende fronteiras.

Em harmonia com Inoyama Land, também uma dupla composta por Makoto Inoue e Yasushi Yamashita, Radio Yugawara condensa toda a sua criação em torno da cidade japonesa estabelecida no título da obra, Yugawara. É nesse espaço físico que os artistas, com os pés na improvisação, criam e recriam cenários de caos e calmaria que juntos pairam em um meio termo temático muito próximo do 環境音楽 (Kankyō ongaku), um estilo específico que catapultou algumas formas muito locais de música ambiente, baseadas no otimismo do new age e na artificialidade desapegada da música eletrônica progressiva pós-oitentista.

Essa mistura, de fato, funciona não apenas porque a música ambiente é capaz de tecer suas próprias relações muito rapidamente, mas porque os meios de criação — antigos e ainda em uso — permanecem os mesmos. É diferente de quando um artista resgata um sintetizador usado há 40 anos e decide criar algo novo a partir dele; Radio Yugawara utiliza métodos e materiais que literalmente resistem ao teste do tempo, mas não por serem ultratecnológicos, e sim por serem atemporais: sinos, xilofones, flautas, gaitas, artefatos folclóricos feitos de materiais orgânicos, o som do vento e, por fim, equipamentos eletrônicos responsáveis ​​por decodificar cada uma das peças aqui desenvolvidas.

O resultado é arrepiante, causando um sentimento de familiaridade ao mesmo tempo em que desperta a sensação de estar diante de algo novo. É o choque geracional e cultural que nos guia por momentos de doçura (“Strange Clouds” e “Abstract Pets”) e conexão profunda (“Simoom” e “Tangerine Fields”). É um álbum que homenageia a música ambiente e declara a necessidade de criar a partir da ação presente e coletiva, e não da automação de meios ou da distância entre seres que existem nas características atuais que cercam a produção musical.

Selo: Tonal Union
Formato: LP
Gênero: Música Ambiente / Experimental
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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