Crítica | Short n' Sweet


★★☆☆☆
2/5

A presença de Jack Antonoff aqui é um grande problema. Houve muitas críticas direcionadas ao seu trabalho como produtor ultimamente. Temos que ter cuidado ao abordar esse tópico. Jack não é um profissional ruim, mas há um número crescente de artistas pop que o procuram para fazer um som mais alternativo, pois ele tem mostrado que pode facilmente adotar essa estética justamente devido ao seu histórico de produção que envolve nomes como Lorde, Lana Del Rey e St. Vincent. O problema está, de fato, nesses artistas que o buscam com a intenção de ganhar certa credibilidade, e que geralmente têm pouca ligação com o cenário que pretendem recorrer. Tal disposição acaba propondo trabalhos que se aproveitam de alguns elementos-chave na tentativa de dar a impressão de serem cantores mais sérios, mesmo que o resultado seja quase sempre muito superficial — algo que Sabrina Carpenter faz aqui em Short n’ Sweet.

Este álbum vem de um contexto em que ela está se destacando como a grande nova sensação do pop. Tendo o principal hit do verão de 2024, “Espresso”, uma faixa extremamente divertida e animada que mostrou ao mundo que ela é uma artista habilidosa em criar músicas descontraídas e cheias de carisma, sinais que fizeram com que o presente material prometesse ser um disco saboroso que a estabeleceria como uma grande força para o mainstream. É nítido que haja intenções como a de se apresentar como mais do que apenas uma cantora pop frívola — esse é justamente o problema.

Sabrina nunca foi uma artista que interagiu muito com o alternativo, mas agora ela quer se adaptar a esse espaço de alguma forma. O resultado é forçado e completamente sem alma. “Sharpest Tool” e “Lie To Girls” são alt-pops chatos, pra dizer o mínimo, e “Coincidence” tenta encaixá-la em um som country marcado fortemente por tons acústicos que não possuem força, e sabe por que? Porque Carpenter não funciona nesse som. Seus vocais são fracos, enquanto as referências country na instrumentação são as mais ridiculamente genéricas possíveis, parece muito falso na execução da proposta, de um jeito postiço e não anedótico como poderia fingir ser. “Dumb & Poetic” também é outra tentativa ruim de se adaptar a um som que não combina com ela, aqui, um folk pop desleixado.

Quando Sabrina tenta soar mais como uma artista pop mainstream, deixando de lado um pouco da pretensão de soar mais alternativa, o resultado é muito mais agradável. Por exemplo, acho que “Juno” e “Please Please Please” são as faixas que melhor demonstram como a cantora consegue trazer algo realmente bom usando referências diferentes do normal na música pop atual, mas que não soam como se estivessem tentando ser mais do que realmente são: boas canções pop. Nesse sentido,ambas são reminiscentes do pop rock dos anos 70; a primeira se destaca pelo ritmo e melodias sedutoras, enquanto a segunda pela instrumentação sofisticada e cativante.

“Good Graces” é, junto com “Espresso”, a melhor manifestação do que Short n’ Sweet poderia ser se Carpenter não estivesse tão preocupada em se mostrar alguém que não é. A envolvente bateria de atlanta-bass, alinhada às melodias criativas, resulta em uma música que é o maior exemplo de quão carismática Sabrina Carpenter soa fazendo canções pop dançantes e despretensiosas. Ela não precisa tentar se afastar da premissa mais despreocupada do dance-pop para alcançar alguma credibilidade artística, seu charme está na capacidade de fazer faixas com ideias tão simples, mas muito efetivas, e ela não precisa de nada além disso.

Selo: Island Records
Formato: LP
Gênero: Pop
Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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