Crítica | Valley Of Spirits


★★★★☆
4/5

Uma nova frente de artistas independentes no melhor estilo DIY vem se fortalecendo ao longo dos anos por conta de espaços como o Bandcamp e, como de costume, o Soundcloud. Para nomes como IDGlitch, cujo produto deriva de uma quase-roubofônia, plataformas como Spotify sequer podem ser cogitadas – aqui chegamos ao dilema da propriedade intelectual.

Valley Of Spirits é o exemplo brasileiro mais próximo que podemos encontrar, em dado contexto, dos avanços da criação musical na era do “faça você mesmo”. A composição em camadas, atravessada por samples infinitos, combina a emoção exata do que o produtor chama de biomas em um diálogo que ora se apega à superfície de distorções multidimensionais, ora se joga, junto com o ouvinte, nas profundezas de sons que são, surpreendentemente, muito naturais.

Peças como “The Odyssey”, que esmaga caixas com instantes de sampleagem – devidamente recortados – abrem espaço para os limites do plunderphonics em sua caracterização mais significativa possível como parte de um processo. É como se IDGlitch não se importasse em condensar os sentimentos que cada fragmento sonoro aqui pode trazer, e por isso sua ecolocalização o guia por flautas, cantos de pássaros e vocalizações profundamente distorcidas. Essa confusão afeta nossos sentidos, e talvez essa seja a máxima do estilo e do meio aqui propostos. É disso, de fato, que precisamos; desse desafio constante em temperar possibilidades e cruzar genes opostas que são tão singulares quanto nossas emoções.

Se pensarmos em Valley Of Spirits ocupando um espaço importante de consumo, uma plataforma que finalmente seja capaz de acolhê-lo, devemos automaticamente pensar na posição com a qual IDGlitch joga na autoria de sua criação. É um exercício importante para ver em que pé estamos da arte, que deixou de ser uma prostituta para ser licenciada, e assim podemos chegar a conclusões diferentes. Embora, para mim, não haja dúvidas de que a propriedade intelectual a esteja matando (a arte), o Spotify a esteja sufocando (a arte) e nós, por fim, nos afastando cada vez mais dela…(a arte).

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Experimental / Eletrônica, Plunderphonics
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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