Recap Mensal de Singles AT | Julho


A recapitulação mensal contendo os melhores singles do mês.

Julho nos ofereceu algumas das melhores músicas do ano até então, dando sequência a alguns começos e criando oportunidades para recomeços e novas (re)narrativas. Leia o nosso recap para ter a certeza de que não perdeu nenhuma novidade do mês passado!




7.
“Mysteries Of The Cleft”
death's dynamic shroud

“Mysteries Of The Cleft” dá continuidade às experimentações do trio death’s dynamic shrouds — grupo de vaporwave obcecado por lançar novos projetos — utilizando paletas sonoras tangenciais ao gênero, mas se afastando dele mais do que de costume. É uma boa demonstração das interseções entre a música ambiente e o vaporwave, especialmente ao se concentrar em texturas que aludem o espaço sideral, construindo pontes de memória com a cena do utopian virtual e seus estranhos maneirismos. Como o trio vem de uma comunidade externa à produção atual de música ambiente, eles trazem influências de outros gêneros que agregam tremendamente a magnífica seleção de meditações multidimensionais aqui oferecida. É difícil não se deixar levar pelos hipnotizantes dez minutos dessa faixa. 

Selo: Independente
Gênero: Música Ambiente / Space Ambient, New Age




6.
“Pfv Amor”
Votú

Fortemente baseada em dissonâncias, “Pfv Amor” é uma música difícil. Sua natureza cartunesca e hiperbólica leva a uma insanidade mental repleta de ruídos; é uma colagem desconexa de industrialismos-pop — um alô à SOPHIE — frequentemente interrompida por garranchos, glitches, bleeps e rasgos eletrônicos. Esses elementos se misturam de forma cativantemente desorientadora, mas — infelizmente — nunca se desconectam completamente.

Crítica completa: aqui.

Selo: Matula
Gênero: Eletrônica / Deconstructed Club, Hard House




5.
“One More Time”
SOPHIE & Popstar

Ouça essa música pelo que ela é, e não pelo que ela deveria ser. Trata-se de um estudo extremamente profundo de sensações club-centradas, explorando um minimalismo ousado e tentador, e não de uma música para ser ouvida como um single, muito menos uma faixa pop acessível e entediante como "Reason Why" foi. Mórbida, deprimente, cíclica. "One More Time"; o desejo de ir além do que já foi feito, um apelo impotente por uma segunda chance. Já passou, é o fim. Acabou.

Selo: Future Classic, MSMSMSM
Gênero: Eletrônica / Trance Ambiente




4.
“Satellite Business 2.0”
Sampha & Little Simz

“Satellite Business 2.0” não é apenas uma versão extendida, mas uma completa transformação, um projeto que redimensiona todos os sentidos que a música original tinha ao álbum. A faixa busca uma espiritualidade além-Terra, tanto na intenção metafísica quanto na busca por um novo sentido fora do planeta: em última análise, a completude terrestre sei esgotou há muito tempo, restando apenas reciclagens e papeis machê de ideias; como o compositor desenvolve: “Looking at my phone, stuck going through the images / Looking in the mirror, I can see a limit / I can see my body, I can feel a difference”.

Crítica completa: aqui.

Selo: Young
Gênero: R&B / Neo-Soul, Art Pop, Dub




3.
“chucking it”
Dean Blunt & Nova Varnrable

“chucking it”, parceria de Dean Blunt com Nova Varnrable, tem apenas 100 segundos de duração, mas é mais do que o suficiente para um experimento de psicodelia de outro mundo: é a total contra-maré da neopsicodelia no uso de efeitos, representando, contudo, uma diferenciação notável do mundinho Beatles-Floyd dos anos 60; é surpreendente que um material assim exista atualmente.

Crítica completa: aqui.

Selo: World Music Group
Gênero: Experimental / Folk Psicodélico, Hypnagogic Pop




2.
“MIND TRAIN”
Cornelius

“MIND TRAIN” surge, décadas após o auge criativo de Cornelius, como um ponto de convergência do que o caracterizou como persona peculiar na música japonesa. Ao utilizar o ambient pop — gênero de manipulações rítmicas baseado no krautrock —, o autor abre um leque infinito e espiralado de possibilidades de fusão, desmantelação e transcorrência de gêneros e sobreposição de ritmos; são nove minutos de modulações eletrônicas-rock-psicodélicas divertidíssimas.

Crítica completa: aqui.

Selo: Warner Japan
Gênero: Experimental / Ambient Pop, Eletrônica Progressiva




1.
“The Leader”
Dog Race

Produzida por Ali Chant (Perfume Genius, Jenny Hval, Portishead), “The Leader” demonstra um domínio tão amplo do passado e futuro do pós-punk que é difícil descrever em palavras. Há algo sedutor na maneira como o guitarrista dedilha suas notas e como o baixista percorre as cordas grossas de seu instrumento, algo tão envolvente na estética gótica que só a entidade fantasmagórica que assombra a vocalista pode explicar adequadamente. Se eu pudesse, inalaria cada segundo dessa música.

Crítica completa: aqui.

Selo: Fascination Street
Gênero: Rock / Rock Gótico, Pós-Punk



Menções Honrosas:


“###”
tripleS

Quase uma abertura de anime em seu uso do rock, “###” (ou simplesmente “hash”) é uma injeção de felicidade instantânea. A música funciona a partir da constante mudança de melodias e elementos adicionais, oferecendo pouquíssimo tempo para que qualquer ideia se desenvolva; é como uma sequência perfeitamente distribuída de pedacinhos de chocolate. 

Selo: MODHAUS
Gênero: Música do Leste e Sudeste Asiático / K-Pop, Dance-Pop




“All You Children”
Jamie xx feat. The Avalanches

Quarto single do rollout de In Waves, “All You Children” continua a desenvolver os temas festivos do álbum ao lado do renomado duo de alt-disco The Avalanches. O tech house aqui empregado — em especial o sample vocal avalanchiano no refrão — oferece uma nova perspectiva em relação aos outros singles do álbum; é mais íntimo, menos opulento, menos Jamie xx. Continua sendo um single ótimo, mas não posso deixar de pensar que todos os outros aperitivos que recebemos do álbum são melhores.

Selo: Young
Gênero: Eletrônica / Tech House




“i'm so tired”
MAVI

MAVI é um nome que tenta revitalizar a cena do hip hop abstrato. Notas de cloud rap, neo-soul, abstração de texturas e outras sutilezas são abordadas com um cuidado belíssimo em “i’m so tired”. Contudo, não consigo deixar de sentir que o escritor-mestre está um pouco desfocado em alguns de seus conceitos, especialmente no videoclipe, que é indeciso e viciado em cortes — demonstrando uma necessidade de se afirmar inútil, um ruído na mensagem. Ainda assim, o resultado é indiscutivelmente mais interessante e melhor escrito do que grande parte do que se encontra no gênero atualmente.

Selo: Mavi 4 Mayor
Gênero: Hip Hop / Abstrato, Drumless




“Lure”
Nicole Miglis

Terceiro single do rollout de Myopia, “Lure” é um lápis-lazuli do glitch pop moderno, uma pérola ligeiramente verde-esmeralda no centro de um colar azul-bebê, uma formosura que precisa, urgentemente, de mais exposição. É perfeitamente sensível, perfeitamente enquadrada num oceano calmo, cristalino e lindo de morrer.

Selo: Sargent House
Gênero: Pop / Alt-Pop, Glitch Pop, Microhouse




“One Wish”
Ravyn Lenae feat. Childish Gambino

Com uma voz aguda, suave e quase arquejante, Ravyn Lenae é um deleite de delicadeza no mundo do R&B, e em “One Wish” suas melhores qualidades são expostas — ao menos no que tange conversas com o passado. O uso elegantemente sutil de técnicas de hip hop ressignifica um recorte de smooth soul, talvez entediante aos moldes de produção atuais, em algo moderno, meigo e fresco; uma adição ideal para a sua playlist de soul ou R&B.

Selo: Atlantic
Gênero: R&B / Neo-Soul, Smooth Soul
Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

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