Clássicos do Aquele Tuim | In Colour (2015)


★★★★☆
4/5

Quando lançou In Colour, Jamie xx não tinha ideia — ou talvez tivesse, mas não conseguiu se desviar dela por questões éticas na música eletrônica — de que estaria criando um pendrive metafórico que conquistaria todas as casas noturnas do mundo em uma espécie de expansão uníssona. Essa adesão só foi possível porque ele colocou nesse álbum tudo aquilo que qualquer ser humano na Terra poderia gostar de ouvir.

Ainda que não possamos classificá-lo como o material mais acessível de todos os tempos, vale destacar a forma como o produtor consegue capturar o ouvinte de maneira tão pessoal que In Colour se tornou sinônimo do que muitos, na comunidade de fãs de música, usariam como inspiração para se tornarem fãs de qualquer artista de música eletrônica pós-Jamie. O fato é que o álbum trabalha englobando dezenas de sons, perspectivas e movimentos musicais (aqui precisaríamos explorar a infinidade de texturas e camadas presentes no álbum) por meio de um trabalho de samples que se tornou um exemplo genuíno do quão bem-sucedido ele foi.

São frases repetidas de MCs, fragmentos de faixas encontradas nos destroços das rádios que ele ouvia quando criança ou criações verticais — envolvendo seus companheiros de banda, Oliver e Romy — de pequenas partículas e melodias familiares. É de fato uma criação muito cuidadosa, ainda que, em certos momentos, excessivamente generalista.

Jamie, em sua busca por criar algo que representasse a cena dance londrina, da qual cresceu ouvindo falar, recorreu a marcas de sons postados em espaços underground, que tinham como principal alicerce raízes culturais negras. Ele extrai muito desses sons, os embranquece e, pronto: sua música está feita. Se assumirmos que não há barreiras para esse tipo de arte – e para a música em si – In Colour se torna ainda maior. Jamie reconhece que pode ter tido uma perspectiva um tanto antipática ao converter tudo para si ao mesmo tempo, razão pela qual, em In Waves, seu novo álbum, ele parece evitar essa livre associação de sons que acaba absorvendo e usando indiscriminadamente.

O passado que In Colour guarda, no entanto, não pode ser simplesmente mudado. É por isso que, ao recorrer à emoção das memórias, como foi sustentado naquela época e como olhamos para o álbum hoje, Jamie criou um tipo de atemporalidade que abrange passado, presente e futuro. Isso, juntamente com o tom quase universal do deep house e future garage dos melhores momentos do álbum, que aprimora nossas memórias e aquece o coração.

Poucos álbuns de música eletrônica são capazes de realizar algo semelhante. Poucos artistas parecem se comunicar com o público de forma tão sincera – mesmo que escorregando na forma de fazê-lo – quanto Jamie xx. E é por isso que In Colour, respondendo a muitas perguntas, teve uma classificação próxima da perfeição na Pitchfork, e é por isso que é amado e reverenciado pelas pessoas e por nós... se é que isso vale alguma coisa.

Selo: Young
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / UK Bass, Deep House, Future Garage
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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