Crítica | abouTZU


★★★☆☆
3/5

Desde 2022, a JYP Entertainment vem tentando expandir o trabalho musical das integrantes do TWICE lançando-as como solistas. A primeira de todas foi NAYEON, a mais famosa do grupo, depois JIHYO, a vocalista principal. Após os solos de ambas, o mais óbvio a se fazer era produzir o álbum individual de JEONGYEON, a última integrante da linha vocal que estava faltando, porém, não era do seu interesse trabalhar como cantora solo — ela acha que trabalha melhor em grupo.

Com isso, ficou a dúvida sobre quem seria a nova solista do TWICE. MINA, MOMO e SANA estão trabalhando em uma unit focada no mercado japonês, sobrando então a linha de rap (CHAEYOUNG e DAHYUN) e TZUYU. Esta última foi a escolhida. Fiquei muito preocupado sobre como a JYP lidaria com a carreira solo de TZUYU, porque a empresa nunca buscou construir uma identidade artística para ela ao longo da trajetória do TWICE; seu único papel era ser o rosto bonito do grupo. Felizmente, abouTZU, seu disco de estreia como solista, mostra indícios de uma possível personalidade musical curiosa; no entanto, é de longe o registro mais inconsistente de todos os trabalhos paralelos das integrantes.

Diferentemente dos mini-álbuns de NAYEON e JIHYO, que construíram a imagem de cantoras mais alinhadas ao R&B, o plano da JYP para TZUYU é fazer um pop divertido e dançante. Essa ideia tinha tudo para render bons resultados, porém, abouTZU pega as referências mais datadas de dance-pop e electropop possíveis que fazem o disco soar como um álbum pop genérico de 2014. “One Love” tem os versos marcados pelo som funky divertido mas que desencadeia em um refrão com melodias repetitivas e sonoridade batida que remete às baladas electropop da década passada. “Losing Sleep” traz consigo a abordagem mais chata possível do afrobeats, estilo que parece se desprender de suas referências africanas para ser usado apenas como uma ferramenta estilística a fim de incorporar uma atmosfera tropical superficial.

Entre os destaques há duas faixas que demonstram o potencial da cantora. “Run Away” é um fascinante ode aos clássicos da disco music, referenciando muito “I Will Survive” e faixas euro-disco do ABBA. TZUYU pega emprestado a estrutura da canção e usa da progressão de acorde similar. Assim como Gloria Gaynor, a música inicia com o piano emocionante que transiciona para as batidas dance, que aqui é marcada pela produção mais atual, com os eletrônicos alinhados com a cena mais recente do disco: o nu-disco. É o encontro ilustre dos anos 70 com a atualidade. O único problema é como a faixa parece encurtada para se encaixar nos padrões atuais de duração do pop. É uma faixa com uma construção tão grandiosa, mas termina sem uma ponte, o que seria a cereja do bolo para uma obra fortemente marcante.

“Lazy Baby”, a melhor música do projeto, é descontraída e otimista, combinando perfeitamente com a artista. Enquanto TZUYU canta sobre não querer fazer nada, a produção trabalha com uma mistura eletrizante de electropop com elementos que lembram jazz, enquanto as batidas animadas do refrão dão uma intensidade fantástica reforçada pela forte performance da solista. Se ela tentar seguir esse estilo com seu tom peculiar em seus próximos lançamentos solo, pode provar ser um nome muito carismático, mas infelizmente a primeira gravação solo de TZUYU tem muitas falhas, principalmente devido à direção musical ainda um tanto confusa.

Selo: JYP Entertainment
Formato: EP
Gênero: Música do Leste e Sudeste Asiático / K-Pop
Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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