Crítica | AMAMA


★★★☆☆
3/5

Como ocorre em outras artes, uma das maiores gratificações que a música proporciona é poder acompanhar a evolução e solidificação de um fazer artístico. É fato que, nessa trajetória, essa evolução nem sempre é satisfatória ou tampouco previsível, mas gera sentimentos muito únicos quando se faz perceber que determinado artista deu mais um passo assertivo rumo ao que se propõe comunicar. Com AMAMA, a banda americana de indie rock psicodélico Crumb parece finalmente avançar na conquista de seu propósito.

Passado o período inicial de o grupo apresentar sua ideia — com os EPs homônimo (2016) e Locket (2017) e o seu primeiro álbum, Jinx (2019), todos bem recebidos —, o posterior tempo de amadurecimento revelou desafios comuns para quem faz música, sobretudo para grupos cujos gêneros abraçam a psicodelia ou outros elementos abstratos. O que normalmente ocorre é um abrandamento musical, com repetições desnecessárias ou faixas sem força suficiente para se tornarem memoráveis, e tudo isso foi enfrentado pela banda no segundo álbum, Ice Melt (2021). Afinal, embora apresentasse faixas que soassem agradáveis especialmente aos fãs da banda, o álbum anterior pareceu não fornecer elementos suficientes para que novos caminhos pudessem ser enxergados.

No entanto, diferentemente de seu antecessor, AMAMA é energético, sólido e maduro. Sem deixar de lado sua psicodelia característica contrastante com a voz etérea de Lila Ramani, Crumb parece ter recebido o “sopro de vida” que faltava, a ponto de arriscar misturar novos samples e efeitos à sua sonoridade de praxe. Toda a vivacidade também se torna proposta das composições de Ramani, que oferece o álbum como uma homenagem para a sua avó materna, a qual teve a oportunidade de visitar apenas uma única vez por conta da distância geográfica e utilizou a voz como sample para a faixa homônima ao álbum (é possível vê-la cantar em uma videochamada utilizada na abertura do clipe). Outras faixas de destaque que marcam essa fase experimental são “Sleep Talk” e “Dust Bunny”, que acertam ao brincar com a velocidade e as mudanças de ritmo, ambas contendo ainda as hipnotizantes linhas percussivas feitas por Jonathan Gilad.

AMAMA talvez era o ajuste que faltava para que a bússola de Crumb pudesse apontar clara e novamente para um norte. Agora, esse caminho parece mais bem permeado dentro da sua atmosfera já familiar, e até gera uma certa expectativa para que ele seja aperfeiçoado, expandido e explorado de outras formas dentro dessa proposta, seja por meio de fusões com outros gêneros ou até mesmo possíveis novas parcerias.

Selo: Crumb Records
Formato: LP
Gênero: Rock / Indie Rock, Rock Psicodélico
Raquel Nascimento

De um lado, é profissional do texto há 8 anos, atuando como revisora, redatora, tradutora e escritora. De outro, é cantora e baterista, apaixonada por música de todos os gêneros. Unindo essas duas vertentes, escreve para o Aquele Tuim, fazendo parte da curadoria de Rock.

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