Crítica | CRASH


★☆☆☆☆
1/5

O álbum CRASH se apresenta como uma obra extremamente desinteressante, e isso fica claro desde o primeiro momento. A impressão que passa é de que poderia ter sido lançado em 2016, sem qualquer relevância no cenário atual. Datado, confuso e mal executado são as palavras que melhor o definem. Ao ouvir o álbum, não se sente inovação ou criatividade; ao contrário, é como se fosse uma coleção de ideias recicladas que não se conectam entre si.

Kehlani parecia estar em uma trajetória de amadurecimento artístico, que se revelou promissora com seu álbum de 2022, blue water road. Esse trabalho trouxe um som mais assertivo e interessante, repleto de propostas maduras e arranjos ricos, que demonstravam uma evolução em sua produção musical. Foi um álbum que indicava um futuro de criações memoráveis. No entanto, CRASH nos apresenta uma Kehlani que parece ter perdido o rumo. O álbum é, no seu sentido mais otimista, datado, com uma mistura desorientada de R&B, trap e até uma pitada de country que, longe de acrescentar algo novo, só reforça a impressão de desorganização.

A escolha dos gêneros em si não seria um problema, mas é a execução que compromete todo o projeto. Os elementos de trap, por exemplo, soam ultrapassados, como se fossem relíquias de uma era musical já superada. Esses elementos são aplicados de maneira tão intensa em certas faixas que a experiência auditiva torna-se cansativa, quase incômoda, e a sensação que prevalece é a de estar ouvindo algo velho. A inclusão do country é mínima, perceptível apenas na última faixa, onde divide espaço com o R&B, mas, mesmo assim, não consegue se destacar.

O álbum até sugere uma tentativa de transição entre as primeiras faixas, como se houvesse uma narrativa a ser contada. No entanto, essa transição não tem propósito. Não há continuidade entre as letras, na produção, ou na sonoridade. Parece uma colagem de ideias desconexas, sem um objetivo claro. A faixa de abertura, "GrooveTheory", até começa de forma interessante, mas quando entra na sua segunda parte, revela a essência do que está por vir: um som sem vida, previsível e, novamente, datado.

Conforme o álbum avança, a monotonia se aprofunda. As faixas vão se tornando cada vez mais esquecíveis, e o ouvinte perde o interesse rapidamente. Mesmo se esse álbum tivesse sido lançado há alguns anos, ele não teria sido memorável. Uma exceção, porém, é a faixa "Chapel", que traz um som mais industrial e até intrigante. Mas essa é uma das poucas que se destaca, vem quase no final do álbum, o que levanta a questão: quantos ouvintes realmente chegarão a ela? Infelizmente, até esse raro momento de frescor é ofuscado pela longa sequência de canções monótonas e mal desenvolvidas.

Ao fim de CRASH, a sensação predominante é de decepção. O álbum falha em entregar algo que cative o ouvinte ou que represente uma verdadeira evolução na carreira de Kehlani. Mesmo em momentos de maior potencial, o projeto não consegue se redimir por completo. A expectativa era de um trabalho que, no mínimo, mantivesse o nível de qualidade de blue water road, mas o resultado foi algo desconexo, confuso e antiquado. Talvez, ao tentar inovar em demasia sem um foco claro, Kehlani tenha se perdido em um mar de influências mal aplicadas.

Selo: Atlantic
Formato: LP
Gênero: R&B / Pop
Antonio Rivers

Me chamo Antonio Rivers, graduando em História, amazonense nascido em 2006. Faço parte do Aquele Tuim, nas curadorias de Experimental, Eletrônica, R&B e Soul.

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