Crítica | Cria de Caxias


★★☆☆☆
2/5

POCAH traz para Cria de Caxias, seu primeiro álbum, uma proposta grandiosa: um disco conceitual que reúne um pouco de toda sua trajetória como artista musical. Primeiramente, ela se mostra mais fiel ao seu período como MC Pocahontas, época em que as raízes da cena funk na Baixada Fluminense eram mais fortes.

O meio já mostra a transição para o nome artístico POCAH, com as faixas demonstrando o momento atual em que ela tem um alcance maior no cenário pop brasileiro e, por isso, seu som soa mais comercial partindo de um alinhamento da cantora com outros ritmos populares fora do espectro do funk, como R&B e trap. Enquanto, por fim, o lado Viviane apresenta a MC em sua cara metade mais intimista, discutindo questões pessoais que raramente são destacadas em seu trabalho.

As duas primeiras partes, que trazem seu olhar mais forte para o funk, funcionam, ainda que sem força suficiente para interessar muito o ouvinte, mas acho que cumprem exatamente a intenção de músicas no estilo da POCAH que não têm o propósito maior de proporcionar diversão efêmera.

O maior problema é quando ela tenta falar sobre sua vida pessoal de forma emotiva a partir de faixas pop suaves. Isso se dá porque POCAH é extremamente desprovida de bom gosto musical para fazer esse tipo de sonoridade. “Nunca Tá Bom” e “Vitória”, em especial, são construídas em cima da guitarra acústica anêmica que remete aos estereótipos mais insuportavelmente genéricos de músicas pop com o tom doce e ritmo calmo — são muito previsíveis e completamente vazias.

“Livramento”, canção com tema forte inspirada no relacionamento abusivo que ela passou, com agressões que quase deixaram-na cega, é prejudicada por uma visão musical medíocre. É uma balada com elementos gospel, feita na tentativa de soar poderosa, mas não parece poderosa de jeito nenhum, porque o principal, a interpretação da artista, é muito fraca, não transmitindo emoção alguma. É uma proposta linda, que mostra POCAH se livrando de um relacionamento tóxico e encontrando seu bem-estar com a maternidade, mas a MC parece ter buscado os caminhos mais superficiais possíveis para seguir com essa abordagem, que não favorece seu talento.

Em relação a essa mudança de som feita no lado Viviane, POCAH comenta que quer mostrar uma faceta diferente, a qual demonstra que ela pode fazer muito mais que apenas o funk. Entretanto, quando a apresentação de novos horizontes musicais é feita de forma tão pobre e sem vida, a impressão que passa é a oposta: fica no ouvinte a ideia de que ela é uma artista limitada.

Selo: Warner Music Brasil
Formato: LP
Gênero: Funk / Pop
Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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