Crítica | In Waves


★★★☆☆
3/5

Mesmo pressionado pelo passar do tempo, Jamie xx nunca se deixou abalar pela forma como essa mesma pressão o fez perceber o momento em que se encontra agora — ele deveria até ser grato por ter notado tão cedo que o mundo, pasmem, mudou. E, 10 anos depois de sua cataclísmica estreia com In Colour, álbum que estabeleceu tantas novidades para os fãs de música eletrônica e indie pop que hoje não há meios de enxergá-lo senão como um verdadeiro substrato do que aconteceu de lá para cá na música e em todas as camadas pop e estéticas abordadas naquele longínquo ano de 2015, Jamie retorna ciente de que, assim como o mundo, ele também precisava mudar.

Ele tenta (“Baddy On the Floor”), olha para o passado (“Waited All Night”) e encara alguns embrulhos mentais (“Breather”) para finalmente avançar rumo ao novo que lhe espera de braços abertos. Mas as coisas ainda estão lá (“The Feeling I Get From You”) e esse talvez esse seja o problema. Vejam bem, apesar de ter chegado perto da perfeição por alguns críticos durante sua recepção, In Colour sempre teve problemas óbvios, como o fato de que naquela época Jamie não tinha tato para mergulhar na cena dance londrina baseada em raízes culturais negras e aproveitar tudo o que existia lá, como fez.

É justamente essa questão que nos faz pensar em In Waves como uma tentativa de remendar o passado, enquanto aqui Jamie parece muito consciente de quão longe quer chegar na cultura rave/clube de música eletrônica que cerca não um, mas inúmeros lugares que ele passou os últimos nove anos conhecendo ao lado do The xx. In Waves, ainda que muito bem introduzido pelos singles “Baddy On The Floor”, “Treat Each Other Right” e “Life”, definitivamente as melhores músicas já feitas por Jamie, é extremamente sensível às mudanças do tempo que cercam sua criação. É como se o disco tentasse o tempo todo nos tirar da familiaridade (“Dafodil”), querendo nos dizer que estamos em 2024 e não em 2015.

É por isso que aqui não há um nível concreto de nostalgia que abrace os moldes tocantes de In Colour, e também parece não funcionar como um disco que, para quem devorou cada música lançada, mantivesse a alta dose de octanagem que havia sido exposta ao longo de todos esses meses que o antecederam.

É uma questão que, pessoalmente, mexeu muito comigo. E, quando percebi que as melhores faixas são, na verdade, os singles já explorados exaustivamente pelo meu vício na colagem única de samples de Jamie, o LP, como um todo, parece cair num poço de elevador infinito, escuro e sem causar palpitação, pois sabemos onde esse poço – e nós – iremos chegar em algum momento.

Selo: Young
Formato: LP
Gênero: Eletrônica
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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