Crítica | Megalomania


★★★☆☆
3/5

Em seu disco de estreia, Megalomania, a pernambucana UANA parte de uma especificidade regional para dialogar com a linguagem universal do pop. A ideia era explorar os ritmos que envolvem a cena noturna de Recife e, nesse sentido, não havia escolha melhor do que o brega para guiar essa jornada — um estilo que, desde 2021, é reconhecido como patrimônio cultural da cidade.

Ao longo das 13 faixas que compõem o registro, a cadência envolvente do gênero assume uma posição de destaque quando colocada lado a lado com outras construções mais típicas da música pop, não apenas por soar diferente, mas também porque dá a sensação de que, mesmo enquadrada nesse espaço limitado, UANA está fazendo algo próprio. O maior exemplo disso é “Pelo Avesso”, um R&B que deixa o blues de lado e adota a bregadeira como base; uma troca que se mostra um diferencial até mesmo quando comparada ao copia e cola que ainda domina as paradas nacionais.

É uma pena, no entanto, que esse destaque venha tão cedo e que o ritmo seja retomado apenas na metade final do disco, com o brega-funk-proibidão de “Gulosa” e o flerte com o EDM de “Só Mais uma Noite”. Antes disso, Megalomania perde um pouco do charme quando começa a fazer concessões estéticas que batem de frente com a proposta inicial — o trap da faixa título e o reggaetón da colaboração com JOCA soam particularmente deslocados no meio de tudo isso. Para UANA, esses momentos vêm como um alerta: dentre tantos acertos, deslizes desse tipo podem dar a impressão de que a grandeza das suas ideias é apenas um delírio.

Selo: Fábrica Estúdios
Formato: LP
Gênero: Música Brasileira / Pop

Marcelo Henrique

Graduando em Matemática Computacional pela UFMG e editor do Aquele Tuim, em que faz parte das curadorias de Pop e R&B e Soul.

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