Crítica | SOPHIE


★★☆☆☆
2/5

Álbuns póstumos normalmente são de torcer o nariz. Seja pela mercantilização do último suspiro artístico do falecido, ou pela falta de precisão da visão do criador do material bruto. Há casos em que não vale nem lembrar que aconteceram, como discos póstumos de Michael Jackson. Tem situações em que dá muito certo, como o American V: A Hundred Highways do Johnny Cash. O diferencial desse tipo de obra em ser bem sucedida ou não vem do cuidado meticuloso e respeito ao artista falecido.

SOPHIE, a lendária produtora de música eletrônica, trabalhava em um disco sucessor de OIL OF EVERY PEARLS’ UN-INSIDES. Em 2021, ela faleceu tragicamente ao cair da varanda de seu apartamento em Atenas, Grécia. A artista recebeu algumas homenagens antes de sua passagem de artistas como St. Vincent e Caroline Polachek. Mas a dúvida era que SOPHIE não lançava música há muito tempo, e a curiosidade por um novo trabalho era tanta que seus fãs vasculhavam os quatro cantos da internet em busca de algo novo, algumas vezes essa busca rendeu resultados como o vazamento do álbum descartado TRANSNATION.

Três anos depois surge SOPHIE, álbum que SOPHIE não havia finalizado. Quem se encarregou do acabamento foi Benny Long, irmão da artista que sempre trabalhou com SOPHIE, principalmente em seu primeiro álbum como engenheiro de mixagem. Neste álbum, ele acrescenta-se como produtor e finalizador de algumas das faixas em um trabalho árduo e complexo. O resultado é confuso e equivocado. Mesmo em faixas mais pop, com feats. de Jozzy e Bibi Bourelly, há uma interrogação, uma dúvida “do que seria se…”

Tudo parece inacabado. Não há cadência e estrutura até em tracks mais pop, como a irritante “Exhilarate” com Bibi Bourelly, ou “Rawwwwww” que, no mínimo, é sem nexo. Além disso, é um trabalho apresentado como inarticulado. As estruturas das canções são abruptas e preenchidas por drones sem cabimento. Porém, há momentos bem sucedidos, como “Reason Why”, conhecida em sets de SOPHIE. Ocasiões como essa exemplificam o êxtase de escutar, presenciar e trabalhar com a artista.

SOPHIE, o álbum, não materializa nem o que SOPHIE esboçou em vida. Enquanto isso, ele é o que já se espera de um compilado póstumo: uma concha de retalhos que, em casos como esse, não diz nada enquanto um material completo. Mesmo em uma colcha de retalhos, espera-se a coesão dos mínimos detalhes, pedaços, frações ou o que quer que a própria costura desses elementos possa mostrar. No álbum SOPHIE, cada canção é apenas um vago momento, e não há o entrelaço entre as faixas. Mesmo com momentos bons, não é digno do fenômeno SOPHIE.

Selo: Transgressive
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / EDM
Vinicius Corrêa

Estudante de Jornalismo, 22anos. É colunista da Agência UVA e apaixonado por música. Faz parte da curadoria de Experimental, Eletrônica e Funk e Folk e Country do Aquele Tuim.

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