Crítica | A Stranger Desired


★★★☆☆
3/5

Jack Antonoff é uma figura onipresente no pop contemporâneo, atuando como produtor e compositor para canções dos mais diversos artistas, como Taylor Swift, Lana Del Rey, Lorde, The 1975, St. Vincent, Kevin Abstract e The Chicks, explorando pop, rock, country, rap, e por aí vai. Não é de se admirar que Antonoff tenha vencido a categoria Produtor do Ano no Grammy por três anos consecutivos. Sua presença começou a ser mais evidente a partir de 2014, após colaborar com Taylor Swift em três faixas de seu disco 1989.

Foi nesse mesmo ano que, seguido da ascensão e encerramento repentino do grupo fun., que fundou com Nate Ruess e Andrew Dost, iniciou seu projeto autoral Bleachers. Seguindo os singles “I Wanna Get Better” e “Rollercoaster”, o primeiro disco da banda foi lançado. Strange Desire traz crônicas de luto e aprendizado que reverberam na lírica de Antonoff até hoje. “I Wanna Get Better”, como dito pelo próprio, encapsula 18 anos de vida em três versos, sendo a canção definitiva do projeto — e também de sua carreira.

Inicialmente, Bleachers era um projeto que Antonoff tomava a frente. Junto a ele, sempre estiveram os músicos Mikey Freedomhart, Evan Smith, Zem Audu, Mike Riddleberger e Sean Hutchinson, que compunham a banda. Com o tempo, eles se tornaram parte essencial da lore de Bleachers, isso sendo ainda mais evidente no relançamento de Strange Desire. Como dito pelo próprio Antonoff, as novas versões partem do que aprenderam juntos. Diferente de Terrible Thrills Vol. 2, projeto em que vozes femininas interpretaram as canções do álbum, A Stranger Desired mantém Jack como porta-voz, mas com novos vocais e produções.

Bleachers sempre teve catarse como seu sinônimo. A proposta de Antonoff era que o ouvinte encontrasse meios de lidar com as ansiedades as alocando em meio a sintetizadores e vocais gritantes. Strange Desire sempre foi o exemplo claro da tese, o magnum opus da banda, que perde um pouco da essência aqui. A Stranger Desired deveria ter sido apenas chamado de projeto acústico, já que as faixas deixam de ser maximalistas com referências oitentistas para se adaptarem a um arranjo mais simplista e contido, similar entre si.

Poucas canções não perdem o brilho original. “Wake Me” continua com uma produção parecida, um pouco mais contida mas ainda refinada; “Like A River Runs” é o melhor retrabalho do disco, e abandona o maximalismo mas o novo arranjo tocante preserva a emoção da canção; “You’re Still A Mystery” adiciona vocais de Evan Smith. Em contrapartida, “I Wanna Get Better”, clássico da banda, deixa de ser empolgante, e “Wild Heart” deixa de ser uma faixa oitentista e expansiva para uma proposta que, ainda que bonita, não tem a mesma graça.

Por mais que a energia efervescente de Bleachers não esteja tão presente nas regravações, o novo toque intimista é acolhedor, por mais que falhe em comparação com as versões originais. Ainda que pequem na ausência da catarse expansiva, as temáticas do trabalho de Jack sobre luto e crescimento em meio à batalhas internas ainda são relevantes dez anos depois. Strange Desire permanece um grito ensurdecedor de alívio, mesmo que agora o diálogo seja interno.

Selo: Shadow of The City / Dirty Hit
Formato: LP
Gênero: Pop / Alternativo
João Agner

joão agner (2003) é escritor e graduando de jornalismo. Escreveu sua primeira história aos oito anos, e tem explorado diversos formatos desde então, como não ficção e poesia. Decidiu que queria ser jornalista e falar de música quando ouviu o disco "Melodrama", de Lorde, pela primeira vez.

Postagem Anterior Próxima Postagem