★★★★☆
4/5
Lançado em 1 de Outubro de 2013, CUT 4 ME marca a estreia da cantora e compositora Kelela. Esta mixtape surpreendente revela uma artista visionária, que se mostra extremamente assertiva na escolha de sua equipe para produzir e compor a obra, trazendo nomes como Jim City, que mais tarde viria a trabalhar com grandes artistas como Olivia Rodrigo, Troye Sivan, Conan Gray, Allie X e Joji.
O trabalho é permeado por um R&B futurista, especialmente levando em consideração 2013. É uma mistura de elementos do soul do final dos anos 90 com eletrônica, uk bass e batidas características do house. É impressionante notar que, além da coragem de combinar elementos distantes e criar músicas de extrema qualidade, a equipe por trás do álbum também se firmará no cenário musical mais adiante. Outro exemplo, além de Jim City, é o produtor Kingdom, que virá a se tornar um nome presente em trabalhos de pop alternativo.
A faixa que abre é “Guns & Synths”, uma excelente escolha para iniciar a mixtape. Ela traz todos os elementos que serão apresentados ao longo das 12 faixas que a seguem. Existe uma certa dualidade que permeia todo o trabalho: enquanto a voz dela se mantém crua, o instrumental, em contraste, é bem carregado, com elementos eletrônicos e efeitos adversos. “Enemy”, a segunda faixa, é onde essa dualidade atinge seu ápice; a instrumentação e a engenharia de som por trás dessa música são notáveis, embora tenha opiniões mistas sobre a composição, mas isso não afeta a qualidade exposta aqui.
Quando o assunto é música sensual para a pista de dança, Kelela tem total domínio. Em “Go All Night (Let Me Roll)”, com um minuto e quarenta e três segundos, ela cria uma atmosfera rica em detalhes. Sua voz, em um tom baixo e cantada de forma suave, é o ponto-chave dessa música.
A faixa que dá nome à mixtape, “Cut 4 Me”, tem uma peculiaridade: mantém o nível de qualidade, mas, em comparação com as que a antecedem, perde um pouco do brilho. Não que seja uma música que comprometa o projeto, mas a novidade aqui é a experimentação na voz dela, em que o instrumental se torna o pano de fundo e a voz dela, a protagonista.
“Send Me Out” foi um choque tremendo quando eu ouvi pela primeira vez, por dois motivos. O primeiro é que a instrumentação me lembrou muito o que Solange viria a fazer em 2016 com o álbum A Seat At the Table, onde o vocal se debruça em tons e alcances diferentes de forma harmoniosa e bela, enquanto os instrumentos alternam entre o orgânico e o eletrônico. O segundo motivo é a lírica dessa música. O álbum, no todo, tem uma lírica boa, até ótima, considerando que foi lançado em 2013. Porém, “Send Me Out” traz Kelela brincando mais com as palavras, sendo um tanto quanto poética.
“Cherry Coffee”, faixa que encerra a mixtape, parece ser um dos primeiros passos da artista na música ambiente, puxada para a eletrônica. A faixa se desenrola em uma repetição de uma espécie de sirene, à medida que novos elementos são acrescentados, com a ausência da voz da artista, que só é inserida aos dois minutos e vinte e cinco segundos.
CUT 4 ME não apenas estabelece Kelela como uma força inovadora no R&B contemporâneo, mas também antecipa tendências que moldaram o gênero nos anos seguintes. Sua capacidade de mesclar influências variadas, aliada a uma produção cuidadosa e letras poéticas, cria uma obra que ressoa profundamente e continua a soar contemporâneo. Essa mixtape é um testemunho do potencial de Kelela, que, com sua visão singular, não só redefine o espaço musical que ocupa, mas também inspira uma reavaliação do que é possível dentro do R&B.
Selo: Fade to Mind
Formato: LP
Gênero: R&B / Eletrônica, UK Bass