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Bandida destaca-se por sua representação crua e direta da liberdade feminina e das contranarrativas sociais. O álbum mergulha em uma sonoridade pesada, com batidas que combinam funk e hip hop, ampliando o alcance do trabalho de MC Carol enquanto dialoga com diversas vertentes da música urbana. Suas letras abordam temas que transitam entre violência, resistência e sexualidade, utilizando uma linguagem provocativa que denuncia a desigualdade. Nesse contexto, o funk carioca é apresentado em sua essência, equilibrando o funk proibidão e o funk consciente, ao mesmo tempo em que critica os tabus que cercam a sociedade.
Um exemplo claro dessa crítica está em “Não foi Cabral”, em que MC Carol desafia as narrativas históricas estabelecidas. Ao criticar a figura de Pedro Álvares Cabral, a artista traz à tona a violência da colonização, denunciando o genocídio indígena e a exploração das riquezas do Brasil. Simultaneamente, homenageia figuras de resistência, como Zumbi dos Palmares e Dandara, expondo as feridas da história colonial e refletindo sobre o apagamento cultural, histórico e principalmente a brutalidade.
A faixa "Prazer Amante do Seu Marido" exemplifica a ousadia de MC Carol, que assume o papel de amante e escancara as dinâmicas de poder envolvidas em uma traição. Com uma abordagem intensa e expressiva, ela revela os jogos emocionais que permeiam a traição e também a liberdade de se afirmar sem filtros. Em "O Amor Acabou", a artista captura a ambiguidade das relações contemporâneas, navegando entre o desejo e a falta de comprometimento, tudo isso com um tom irreverente.
Em "100% Feminista", parceria com Karol Conká, a construção do que foi considerado um hino do empoderamento feminino se destaca. A canção aborda a violência de gênero e a transição para uma mulher autônoma, desenvolvendo uma narrativa que clama por justiça e pelo direito de ser ouvida. Assim, a provocação não se limita a temas de empoderamento; MC Carol também mergulha em questões mais densas.
Um exemplo disso é "Jorginho Me Empresta a 12", que explora o desespero e a traição em relacionamentos abusivos. A intensidade da letra reflete uma mulher que, ao ser traída, busca recuperar seu controle e dignidade, utilizando uma linguagem direta que ecoa a frustração e a luta por respeito. Por outro lado, "Propaganda Enganosa", combina humor e sinceridade para discutir expectativas e decepções em experiências sexuais, enquanto "Delação Premiada" faz uma crítica incisiva à violência policial e à injustiça social que assolam as comunidades no Brasil. O verso que menciona "três dias de tortura" e "sala cheia de rato" ilustra o tratamento desumano que muitos enfrentam nas mãos da polícia, em contraste com a proteção e os privilégios concedidos a "bandido rico e poderoso." A letra reflete as desigualdades e hipocrisias do sistema, onde a justiça é frequentemente negada.
Embora alguns possam interpretar Bandida como um reflexo de discursos vazios, considerando o contexto político da época, o álbum se transforma em um testemunho de como a música frequentemente é usada como veículo de crítica social. MC Carol provoca debates essenciais sobre a verdadeira história do Brasil e as injustiças que persistem desde o falso descobrimento. O mais interessante é que essa construção se dá através da bravura que conhecemos dela, trazendo à tona temas de liberdade e justiça em um cenário de resistência.
Selo: Heavy Baile Records
Formato: LP
Gênero: Funk / Funk Proibidão, Funk Consciente