Crítica | Brat and it's completely different but also still brat


★★★☆☆
3/5

Remixes são muito presentes na cultura club. É comum artistas de eletrônica que animam as pistas de dança remixarem várias faixas, ou terem suas canções remixadas. Esse formato de lançamento faz com que os produtores possam modelar a música e botar sua identidade nelas.

Quando Charli fez BRAT, a cantora estava buscando celebrar a cultura rave. O objetivo foi alcançado com grandioso sucesso: a obra passava por diversas vertentes do EDM, remetendo a seus trabalhos antigos no bubblegum bass, mas também trazendo outros estilos, principalmente o electro-house e o electroclash, para assim, construir um registro que representasse bem determinados aspectos da cena. Para além desse quesito, sua performance carismática, energética e despreocupada fazia com que a energia club fosse extremamente poderosa — Charli xcx soa como a DJ da festa animando todos os que estão presentes.

O trabalho com remixes, nesse sentido, era uma ideia extremamente interessante. Poderia ser a expansão do universo inspirado nas raves que a artista construiu, atribuindo às canções novas versões que iriam maximizar a energia estonteante delas, chamando artistas que, também, iriam colocar sua essência nas faixas. É uma pena que, na verdade, Brat and it's completely different but also still brat acaba fazendo o contrário: dilui a intensidade da maioria das faixas em diversos sentidos.

Quase tudo aqui soa como versões menos interessantes das músicas do álbum original. Nada é ruim de fato, no entanto, isso faz com que o projeto perca de alguma forma seu atrativo. “Sympathy is a knife”, com Ariana Grande, por exemplo, mantém o mesmo instrumental, porém, as melodias lustrosas se perdem aqui para serem trocadas por uma composição melódica apática, muito sem força. Não há o porquê de o ouvinte preferir escutar o remix, sendo ele quase que apenas uma versão extremamente mais fraca da original.

Há algumas músicas, porém, que, apesar de boas, fogem da atmosfera forte que marcou os melhores momentos do BRAT. “Apple featuring the japanese house” e “I think about it all the time featuring bon iver” buscam fazer uma abordagem mais alinhada com a suavidez do indietronica. Por si só, são chamativas, mas colocadas em um registro que tem sua visão artística inspirada nos clubes, soam de certa forma perdidas. Apesar disso, é interessante, mesmo quando inferior à original, como quando a faixa toma uma direção bastante diferente que ainda assim se alinha com a proposta inicial de BRAT: “Club classics featuring bb trickz” vira seu olhar para a cena eletrônica do reino-unido, com referências sedutoras do uk-garage.

Existem, portanto, vários momentos que se destacam. “Von dutch a.g cook remix featuring addison rae”, com a ajuda da visão musical de a.g cook, incorpora aspectos do hyperpop que resultam em um tom ainda mais difuso. O remix de “So I”, também feito pelo produtor, maximiza a potência da homenagem de SOPHIE. Os sintetizadores doces, junto à texturas metálicas, remete ao melhor do bubblegum bass feito pela artista falecida. Ao mesmo tempo, Charli traz na lírica uma nova perspectiva sobre suas emoções em relação à amiga: agora, ela só quer pensar nos bons momentos, não ficar triste pelo o que elas não fizeram enquanto SOPHIE esteve em vida.

“B2b featuring tinashe” é outro momento que incorpora a produção alinhada ao bubblegum bass, que marcou alguns dos mais célebres trabalhos de Charli, no qual as melodias repetitivas, presentes na original, se encaixam muito bem com os eletrônicos adocicados tão bem posicionados quanto uma goma de mascar. Pode-se dizer que Brat and it's completely different but also still brat tem faixas muito boas avulsamente, mas, como álbum, é pouco consistente.

Selo: Atlantic
Formato: LP
Gênero: Pop / Eletrônica

Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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