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Tyler, The Creator construiu uma carreira baseada em sua figura. À la (Deus me perdoe) Taylor Swift. O que mais importa aos fãs do multiartista são não só as narrativas e faixas que ele cria baseado em suas reflexões e emoções, mas, principalmente, a mudança que estas têm ao longo do tempo — uma obsessão com a demonstração de maturidade e crescimento pessoal. O que torna tudo isso tão interessante — diferentemente de como a loira faz —, porém, é a maneira que Tyler faz isso; é algo jamais visto na música e, principalmente, no rap.
Seu estilo de escrita está longe de se adequar à lírica abstrata da tradição que MF DOOM integra, mas, com certeza, nada tem a ver com a forma como rappers do hardcore, cena da qual faz parte, exploram suas emoções. Ao retratar a vulnerabilidade dos que, até nas margens, são estranhos e ao fluir um contexto pop que sua arte sempre, assumidamente ou não, teve, Tyler derivou o estilo encontrado em artistas como Kanye West para algo unicamente seu.
Seu oitavo álbum de estúdio, CHROMAKOPIA, é exatamente isso. É um LP impossível de se replicar sendo alguém senão Tyler, The Creator justamente por focar em como a persona do artista cresceu ao longo dos anos. É mais um álbum em que o rapper transpõe para a música as mudanças em sua forma de pensar de uma forma indubitavelmente fantástica. Mais um em que o produtor transforma todos os elementos dos quais se apropria em algo irrevogavelmente seu; mais um sistema planetário em que o Tyler é a estrela e os gêneros musicais são os astros. Mais um álbum assim. CHROMAKOPIA, seu oitavo álbum de estúdio, é exatamente isso. Exatamente isso. Vê o problema?
Cherry Bomb foi uma explosão descontrolada de experimentalismo pop no rap, um álbum que revolucionou tanto como Tyler pensa a sua arte quanto, numa nota pessoal, meu mundo. Flower Boy é um dos álbuns de hip hop mais sinceros já feitos; quem sabe o mais. A forma como Tyler construiu e destruiu o próprio ego nesse disco não se tem notícia até hoje, sem contar, é claro, o 180 dado pelo artista na forma de abordar e escolher as influências musicais dispostas. IGOR é o álbum de término perfeito, sendo, conceitualmente, o seu melhor, com músicas geracionais do início ao fim. CALL ME IF YOU GET LOST é… divertido, menos pretensioso que os outros; deixemos assim para não atrapalhar o fluxo da crítica.
Mas… e CHROMAKOPIA? O que é CHROMAKOPIA? O que CHROMAKOPIA faz que torne o seu momento único, sua existência algo que tem algum sentido? O que CHROMAKOPIA adiciona à vida de Tyler, à vida de seus fãs, à música pop, ao rap, ao R&B? Por que CHROMAKOPIA importa? Até o presente momento — e prevejo que, em momento nenhum no futuro —, julgo que nenhuma dessas perguntas tem resposta, porque CHROMAKOPIA é exclusivamente o que Tyler já fez. É o reduto de seu trabalho.
O projeto conta com 14 faixas e, em nenhuma delas, algo destacadamente diferente do que Tyler já fez é explorado. Há sim uma valorização maior de sua ancestralidade — o sample de zamrock de “Noid”, o uso maior de percussões e ritmos-base de estilos de jazz influenciados por ritmos africanos. Há, também, uma distorção da nostalgia feita de forma diferente de IGOR — o Timbalandismo de “Darling, I”, o sutil vaporwaveismo de “Like Him”. São, de fato, pontos positivos, e demonstram que Tyler não ficou, totalmente, ausente de inspirações novas.
Entretanto, a falta de personalidade própria — para padrões Tyler, The Creator — do disco é gritante. “Rah Tah Tah” poderia estar em Flower Boy e ninguém estranharia. “Hey Jane” é A Música Que Revela Algo Importante Do Álbum: “Oh meu Deus, ele engravidou alguém!”; o fator de choque não impressiona mais. “Thought I Was Dead” é “THE BROWN STAINS OF DARKEESE LATIFAH” parte dois, só que com 10% do risco da faixa.
Enfim, é um ciclo de reutilização de fórmulas, temas, usos do neo-soul, de acordes jazzísticos, da disposição e escolha de features e até mesmo de timbres — já utilizados dezenas de vezes na discografia do cantor. Infelizmente, do início ao fim, CHROMAKOPIA é previsível na maioria de seus elementos. A única coisa que muda são os tipos de combinação em cada faixa, sendo que todos já são encontrados em discos anteriores do cantor. Pouquíssimas faixas escapam disso (“Noid” e “Balloon”); não é muito animador.
Em outra nota, um tema muito presente no álbum é a liberdade. Tyler vangloria a sua liberdade de ser ele mesmo, de poder colocar seu coração nas músicas, de poder usar as influências que quer da forma que quer. Mas, sem dúvida alguma, CHROMAKOPIA é o álbum em que Tyler usa a liberdade da pior forma em toda a sua carreira. Usar liberdade para apenas repetir o que já foi dito? Liberdade para… não querer fazer nada diferente? Não exagerar nada? É inútil; leva apenas ao vazio. É o completo oposto de Cherry Bomb, um álbum cujo uso da liberdade — num contexto pop — não é avistado em canto algum.
Em suma, CHROMAKOPIA é um álbum que pouco adiciona à discografia de Tyler, The Creator. Ainda sim, é difícil caracterizá-lo como algo menos que muito bom. A escrita do rapper, produtor, cantor e compositor não tem paralelo. A forma como ele centra os marginalizados e os estranhos à sua figura, à sua história, a pura energia, diversão, suavidade e emoção que seus instrumentais, extremamente únicos, trazem… é tudo… muito bom. Mas é isso: apenas muito bom. Já vimos o Tyler fazer muito mais; como fã, estou #decepcionada.
Selo: Columbia
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Experimental, Neo-Soul, Hardcore
Gênero: Hip Hop / Experimental, Neo-Soul, Hardcore