Crítica | Ciao Bella


★★★★☆
4/5

Há uma sensibilidade em Ciao Bella que há tempos deixou de ser parte integrante da música pop. Não estamos falando sobre o quão diverso um disco pode ser ao cruzar barreiras de som e linguagem distintas; este é o básico do que um bom artista pode propor neste espaço. Aqui, há um avanço de tudo o que o pop pode significar. É acessível? Às vezes sim. É divertido? Extremamente. É ultrajante e sentimental? Muito. É talvez o álbum que serve como um exemplo, ou um modelo, de como adaptar e readaptar sons e melodias numa constante de atravessamentos estéticos, com uma assinatura que pode ser reconhecível e distinta. É assim que Cali Bellow, o incrível projeto de Leah B. Levinson, desenterra aspectos formativos do pop para mostrar que a ponta do gênero, talvez sua vanguarda, segue firme.

Embora Leah tenha anos de experiência, e feito muito do que faz aqui em LPs e EPs anteriores, é impossível dizer que os longos três anos de processo criativo que envolvem Ciao Bella não tenham feito parte de sua incrível capacidade de pairar sobre construções atípicas que cada mínimo detalhe do álbum acaba revelando como novidade. É quase impossível destacar cada uma das marcas trazidas por ela aqui; é um híbrido fantasmagórico, com acordes tensos (“Morning Breath”) e uma estrutura dinâmica que evoca partículas do que o hyperpop já foi (“LFG!!!! (i just died)”) e um senso rockista em terceira pessoa que é tão contagiante quanto qualquer força gutural que se expande por sua densa construção (“Goldin Scepter”).

Pode-se dizer que Ciao Bella é o substrato perfeito do que vemos hoje como um senso de autoria em decomposição — é completamente focado no que Leah vivenciou durante sua produção, incluindo referências marcantes e influências locais da bucólica Altadena, na Califórnia. Essa expressão de diálogo entre produção musical e espaço é constante na forma como o disco busca tornar sua comunicação significativa por meio de ruídos, fragmentos vocais modificados, sons de animais (uivos) e ruídos que parecem ter força própria durante momentos de puro caos estético. É como se o projeto de Cali Bellow esticasse seus membros para sentir nosso nariz de palhaço enquanto ouvimos algo cotidiano e inabitual ao mesmo tempo. É como se descobríssemos o mundo ao seu lado, mas não esse mundo, mas sim aquele que é criado por meio de escolhas absurdas e às vezes deliciosamente inconsistentes — como deveria ser.

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Selo:
Fiadh Productions
Formato: LP
Gênero: Experimental / Pop, Eletrônica

Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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