★★★☆☆
3/5
3/5
A coletividade é o âmago da existência de Mustafa. A sua trajetória artística deixa isso claro, mas apenas porque ela está intrinsecamente conectada aos seus outros fundamentos vitais — sua relação com a comunidade, com a fé e, paradoxalmente ou não, a própria constituição de ser. Isso é notável desde a primeira vez que ele esteve nos holofotes, por recitar, ainda na adolescência, seu poema chamado “I Walk”, ressoando suas experiências e angústias vivendo em Regent Park — e com o sentimento de que o Canadá sempre o negligenciou.
Dunya, álbum de estreia do canadense de ascendência sudanesa, é mais uma fragmentação dessa condição do que qualquer outra coisa. Não apenas tateia mais campos próprios da música folk, como a transforma em ferramenta própria. Enquanto negro e muçulmano, Mustafa possui uma visão muito única sobre a vida — e ele a traduz de forma muito sincera e cerceada de vulnerabilidade, que acaba, também, demonstrando que o seu exercício e paixão pela poesia amadureceram.
Mustafa possui muita consciência em encontrar o ponto certo em tratar suas abordagens temáticas. É só observar toda a beleza contida em “Gaza is Calling” — uma música que originalmente celebrava sua relação com um amigo, que ganhou um significado político tão genuíno e a tornou muito mais poderosa. Dunya é uma palavra muito forte para os muçulmanos: é sobre vida, sobre o agora; e esse disco é a materialização total dessa máxima.
Selo: Jagjaguwar
Formato: LP
Gênero: Folk / Singer-Songwriter