Crítica | eloquent vulgar “blender collection”


★★★☆☆
3/5

É assustador como a música encontra diferentes formas de se propagar, entre fórmulas e não fórmulas, entre sons e/ou ausência de sons. Quando pensamos nisso e ouvimos a eloquent vulgar “blender collection”, da dupla eloquent vulgar, composta por Steve Long e Kalli Mathios, somos redirecionados para indícios talvez muito primitivos do que representa fazer música. Aqui, texturas e melodias são criadas por meio de arranhões, rabiscos, batidas limitadas no tom de microssons e uma prensagem de produção – de gravação de campo – que parece estourar alto-falantes mesmo atingindo uma frequência mínima.

Ao longo da obra, o duo pinta e borda com essas texturas criadas em primeiro plano. É como se entrassem em uma sinfonia própria que mistura improvisação e máximo cuidado em organizar, tocar e tratar cada minúsculo, mas nunca simples, elemento. Na faixa final, “wind sharp”, vocalizações tímidas dividem os 15 minutos de espaço com delicados toques instrumentais, rabiscos e uma direção bem contida de música ambiente, colocada através da dosagem desproporcional de tempo, como se o som buscado pela dupla atingisse seu objetivo sem que grandes concessões ou esforços fossem feitos para torná-lo, de certa forma, real e próximo de quem o consome. É nesse esforço que o chamado sentido poético encontra volume em aceitar de fato essa transfusão de linguagem, que sabemos que existe, mas que ignoramos devido à sua assertividade.

Selo: Topos Press
Formato: LP
Gênero: Experimental / Música Ambiente

Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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