★☆☆☆☆
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Escaper, álbum de estreia de Sarah Kinsley, utiliza gêneros como pop e pop rock sem a devida assinatura da artista, fazendo com que a sonoridade soe muito linear, impedindo que o ouvinte escute este disco repetidamente e encontre, nesse amontoado de músicas similares, uma faixa que realmente o atraia.
A música que inicia o projeto é “Last Time We Never Meet Again”, que dá uma falsa impressão, por meio do instrumental, de que será um álbum com batidas mais alegres e melodias vibrantes — uma verdadeira música de verão. De fato, essa faixa apresenta esses adjetivos e é até cativante, cumprindo seu papel de manter o ouvinte interessado nas faixas seguintes. A lírica aborda um término de relacionamento mal resolvido; mesmo sendo uma temática extremamente explorada, a artista consegue desenvolver a ideia de forma razoável. Nela, porém, se apresenta um dos maiores problemas que persistem ao longo do trabalho: vocais muito lineares, que não expressam sentimentos e não utilizam efeitos de voz para “aprofundar” a emoção que a faixa pretende transmitir.
Em “Realms”, a música se mostra um tanto entediante. Embora traga um pouco de expressão nos vocais — como uma mudança de tom para dar entonação nos últimos versos do refrão e uma voz harmonizando com um instrumento de corda —, essas mudanças são mínimas. A lírica trata da imaginação de uma outra realidade, uma temática interessante, mas a forma como é apresentada acaba sendo desinteressante.
“Glint” é a única faixa que realmente chamou a atenção, trazendo um certo tipo de psicodelia no som, nos instrumentos e na maneira como é cantada. A repetição de versos, todavia, que poderia ser aceitável se fossem impactantes, acaba se tornando um ponto negativo, já que o verso não é. “Sublime”, a princípio, parece promissora, lembrando trabalhos da banda Florence and the Machine. O som é mais pesado, com uma variedade de instrumentos, e a voz da artista está mais estridente. Porém, essa inspiração se limita ao refrão, pois os momentos que não são refrão repetem o que já foi mostrado.
Por fim, chegamos à última faixa, “Escaper”, que, a princípio, sugere que a música será uma explosão de sentimentos que foram acumulados ao longo da obra. No entanto, o problema é que o álbum falha em apresentar essas emoções – devido à linearidade das músicas – e o único sentimento explorado, portanto, é o tédio.
Percebo que o álbum se acomoda em uma estética minimalista, que vem sendo cada vez mais popular no gênero de artistas que cantam suas próprias composições, gênero esse que o trabalho se encaixa, porém é profundamente limitado. Essa abordagem, que surge da ideia de que menos é mais, resulta em instrumentações rasas e letras que muitas vezes soam clichês.
É frustrante, pois a música precisa de camadas e texturas que transmitam emoções de forma mais rica. Até mesmo em formas de arte que se concentram principalmente nas letras, como a poesia e a prosa, há uma preocupação com a sonoridade e a profundidade do que é escrito, garantindo que a mensagem seja transmitida de maneira eficaz. A ausência de uma superprodução não é sinônimo de autenticidade; ao contrário, pode levar a uma experiência superficial que deixa o ouvinte desejando mais, e a falta de um trabalho mais detalhista faz com que os objetivos do artista com a sua obra não sejam alcançados.
Em resumo, embora Escaper deixe a desejar em termos de profundidade e inovação, é importante lembrar que este é apenas o começo da jornada de Sarah Kinsley como artista. É muito cedo para condenar seu potencial, e todos sabemos que muitos músicos evoluem e surpreendem ao longo do tempo. Espero que, em projetos futuros, ela consiga explorar mais sua criatividade e trazer uma sonoridade mais rica e envolvente. O caminho da música é cheio de possibilidades, e estou curioso para ver como Sarah irá surpreender e conquistar seu público.
Selo: Verve Forecast
Formato: LP
Gênero: Pop / Pop Rock, Pop Alternativo