Crítica | Fala Pra Elas Dozabri


★★★☆☆
3/5

Fala Pra Elas Dozabri, do DJ Dozabri, é menos focado em buscas instrumentais psicodélicas ou algo assim, como podemos ver na maioria dos álbuns de funk lançados ao longo do ano. Não é exatamente um álbum tradicional do gênero, especialmente porque o foco aqui não está no MC, mas nas criações do DJ. Mas é tão neutro, ou até próximo do esperado, que os MCs chamam tanta atenção quanto o som traçado ao longo das doze músicas. Há momentos em que a batida segue o ritmo da voz (“Chuva Cai - Foi Tão Bom”) que esquecemos da distinção entre esses dois elementos no funk.

Em outros momentos, a base da batida realmente toma a frente, como em “Sobe pro Morro”, em que beat cano de PVC parece surgir com certo oportunismo estilístico para roubar a repetição vocal de Mc Rjota, Mc Lukinha e Mc Datorre. Há também um quase protesto em favor dos bailes de rua, aqui contido em um fragmento de uma amostra vocal de um telejornal, cujas frases dirigidas pelo locutor afetam diretamente a ideia dos bailes de rua como uma estrutura completamente disfórica do Estado e, portanto, merecem ser combatidos. Esse tipo de menção se tornou a chave que muitos DJs usam para implementar uma variedade na escolha dos samples. É interessante, mas quase sempre carece de contexto adicional e, como muitas vezes acontece, não é o caso aqui.

De fato, DJ Dozabri nos deixa aquém de muitas coisas que poderiam situar suas composições. Se por um lado ele se distancia do tipo de álbum que os DJs vêm fazendo, por outro parece querer focar em algo próprio que genuinamente funcionaria melhor se houvesse profundidade em suas criações. Faixas como “Festa do Pente Rala” são a prova de que boas ideias não faltam aqui. A música, em parceria com o mestre DJ Guina, MC Pl Alves e Mc Vuk Vuk, conta com a assinatura de todos os convidados, e parece sobrepor-se ao que Dozabri tem a oferecer. O mesmo acontece com “To Amando um Montão” e “Bigode”, novamente com a presença magnífica do DJ Guina, o DJ mais subestimado de São Paulo e que não somente rouba a cena, mas faz das três faixas o ponto alto do álbum não pelos motivos esperados.

Selo: Barulho das Favelas
Formato: LP
Gênero: Funk

Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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