Crítica | Free Baile - Live In Shenzhen


★★★☆☆
3/5

Jazz ao vivo é outra coisa. Mesmo que ainda haja, como sempre, uma grande cúpula de vidro temperado separando a linguagem do gênero e seus criadores e exploradores, é impossível não notar que mesmo gravações de improvisação livre em estúdio estão longe de conter a boa sujidade de uma performance ao vivo, gravada e minimamente tratada depois. Free Baile - Live In Shenzhen é uma dessas obras carregadas de uma atmosfera ao vivo triunfante, porque não basta ser apenas interessante ou bom; é preciso arrancar o público de seu estado natural, e é exatamente isso que o coletivo MOVE faz aqui. Nesta performance em Shenzhen, China, eles destroem o que criam em questão de segundos, não dando tempo para descanso ou uma simples recuperação do fôlego a ninguém.

Nos momentos que melhor definem toda a experiência provocada neste pequeno fragmento de baderna, o funk e o samba se chocam entre suas raízes brasileiras muito bem impostas por Felipe Zenicola como forma de expandir ainda mais os absurdos compostos por instrumentos de sopro disfuncionais, perdidos no tempo e ditados por baterias agressivas e cordas secas que parecem pouco se importar com os caminhos que estão tomando, isso enquanto os longos minutos de seções se expandem numa tentativa constante de não repetir o que fizeram antes, ideia que, mais uma vez, recorre a uma extraordinária habilidade temporal. Há tamanha agilidade em agrupar melodias e ritmos constantemente fragmentados, que nada parece escapar da confusão geral que recai sobre uma naturalidade temática clara e límpida, diferente do som abarrotado, às vezes desconexo e puramente desconcertante – existe algo melhor do que isso?

Selo: Clean Feed
Formato: Ao Vivo
Gênero: Jazz / Experimental

Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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