Crítica | Honey


★★★☆☆
3/5

Honey é uma faísca que não consegue acender um fogo. Aqui, Dan Snaith retoma de onde parou em Suddenly (2020) com um pé na pista de dança e o outro em seu laboratório científico cheio de equipamentos malucos que são usados para criar o som mais confortável que ele já explorou. E talvez seja por isso que esta seja a curta distância mais simbólica que ele já percorreu, sem grandes saltos ou momentos que instiguem a celebração da linha de chegada.

A faísca que Caribou usa aqui é a inteligência artificial, aplicada em seus vocais, que às vezes recebem um tratamento feminino, bem doce e na linha do que ele provavelmente samplearia no passado (“Do Without You”), e vocais masculinos mais específicos, com versos também próximos do que ele já sampleou (“Campfire”). Mas aí vem a dúvida de que, a esta altura, não valeria a pena evitar IAs apenas por uma questão de elementos que são 100% mais adequados quando tratados com o conteúdo da realidade.

Pessoalmente, não vejo problema algum. A música sempre usou novas tecnologias independentemente das questões éticas por trás delas. E o resultado aqui está longe de ser ruim ou algo assim — acho até que é um uso mínimo, já que as pessoas realmente esperam um incêndio completo dessa pequena amostra de como as coisas podem de fato ser dentro da normalidade; um uso justo e apropriado de algo tão escandaloso.

Com IA ou sem, este ainda é um álbum de Caribou — é bem simples, aliás, tudo o que você espera dele está aqui. E não tem como vê-lo sem essa consideração, o que certamente joga qualquer classificação de ser “automatizado”, “sem vida” ou coisa do tipo para longe daqui. Honey se comporta muito bem diante da mudança externa que vem causando — é uma evidência de que a inteligência artificial é um ponto de virada que muitas vezes é mal compreendido, desproporcionalmente colocado como vilão.

Selo: Marge Records
Formato: LP
Gênero: Eletrônica
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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