Crítica | Izigqinamba

★★★☆☆
3/5

O gqom é uma das ramificações mais intrigantes da música eletrônica sul-africana. Surge no início da década de 2010, nos meandros da vida noturna e das ibombas de Durban, e é nomeado por uma combinação de onomatopeias de cliques consonantais da língua Zulu. Apesar de advir da música house, herdando como característica a constante na formação das batidas, a vertente se diferencia dos outros gêneros eletrônicos da África do Sul por apostar em graves intensos e no minimalismo, assim como rejeita o padrão rítmico 4x4 — tanto que “3-Step” é um dos termos comuns usados para referenciar o gqom.

O trio Phelimuncasi, formado por Malathon, Makan Nana e Khera, já é um nome irreverente do gênero. Se aprofundando em características mais experimentalistas, como a artesania DIY no modo de produção, eles se denominam como um grupo futurista; e não à toa: apesar do reconhecimento pela energia vibrante das suas músicas, o que salta aos ouvidos é o ímpeto genuíno de tensionar o gqom ao máximo em suas possibilidades estilísticas.

E é com esse pensamento que Phelimuncasi se une ao duo Metal Preyers para formar Izigqinamba, a sua aposta mais arriscada até então. Se Ama Gogela, trabalho anterior do trio, é uma quase-epifania barulhenta costurada por parcerias entre DJs reconhecidos da cena, esse disco opta por uma ambiência sonora desoladora — o intuito é desacelerar, desmembrar e virar do avesso essas bases sonoras já estabelecidas.

Gqom se mistura com post-industrial para tatear “o desolado e desconhecido”, propondo uma abordagem nunca vista antes. E como qualquer experimentação, ela está suscetível à estranheza e ao erro. É impossível não notar que existe um esforço criativo, mas que acaba perdendo tração ao longo de algumas faixas. É compreensível, faz parte do processo.

E, talvez, esse realmente seja o futuro. Com a ascensão meteórica do amapiano, o gqom perde um pouco do protagonismo que ocupava como gênero dominante na cena eletrônica da África do Sul, abrindo margem para reformulações e remodelações mais profundas. Estejamos atentos, pois ouvir Izigqinamba é como observar, ao vivo, uma mudança sem precedentes engatinhar seus primeiros passos.

Selo: Nyege Nyege Tapes
Formato: LP
Gênero: Música do Continente Africano / Gqom, Post-Industrial, Minimal Synth
Felipe

Graduando em Sistemas e Mídias Digitais, com enfoque em Audiovisual, e Estagiário de Imagem na Pinacoteca do Ceará. É editor adjunto do Aquele Tuim, integrando a curadoria de Música do Continente Africano.

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