Crítica | MG Ultra


★★★☆☆
3/5

Uma das melhores experiências para se ter com arte é aquela que você sabe que vai muito além da obra que tentou ser boa, independente de ela ter conseguido ser ou não. “Bom” aqui é algo que não existe por definição, que cada ouvinte ou crítico vai definir de acordo com critérios pessoais. Contudo, é algo regurgitado frequentemente de forma indireta pela indústria artística, seja ela musical, cinematográfica, ou o que for. O “bom” na música é limpo, com uma mixagem clássica, uma composição harmônica, um refrão bem definido… esses elementos muito presentes na música pop estadunidense de hoje em dia.

Dito isso, é evidente que MG Ultra não só não caminha por essa trilha, mas arbitrariamente vai na direção contrária, por meio de uma exploração de uma estética completamente poluída — que não chega a ser maximalista por não ter muitos elementos ao mesmo tempo, porém desorienta pelas escolhas notavelmente bizarras de masterização, que deixa tudo extremamente comprimido, e a mixagem, que prioriza elementos incomuns na composição e isola outros tão comuns na música pop, como o vocal.

Naturalmente, seria o caso de imaginar, portanto, que se trata de um álbum fora da curva, ou experimental, o que também não cabe; é um álbum que leva seu lado pop a sério, apenas não quer fazer um “bom” pop. As comparações com o último lançamento do Bring Me The Horizon são inevitáveis e tem sim muita aproximação, ainda que os dois venham de lugares um pouco distintos musicalmente um do outro. São duas experiências parecidas em proposta estética e em posicionamento com relação a articular elementos alternativos da música atual com estruturas e composições pop — que deveria ser sempre a forma de pensar a música popular, que obviamente não pode e nem deve ser extinta, mas que deve ser sempre renovada.

Os elementos de EDM presentes no disco se juntam muito bem com as características do hardcore (punk) que aparece mais através dos riffs de guitarra e das performances vocais. Dance-music aqui ganha um outra possibilidade, nada necessariamente novo, pois os punks sabem dançar, ainda que do jeitinho deles e também não foi o novo lançamento do Machine Girl que articulou essa junção pela primeira vez.

O legal, contudo, é isso concretamente articulado musicalmente, em 2024, por meio da EDM que dialoga muito com a geração atual e com o momento atual da música popular — além disso, não deixa o punk renegado à nostalgia de uma produção dos anos 1970 a 1990 (ou 2000, a depender do seu tipo de punk favorito). MG Ultra é um dos lançamentos mais divertidos do ano, e para isso a dupla Machine Girl precisou abrir mão de fazer um álbum bom, que é a melhor decisão que qualquer artista musical pode fazer.

Selo: Future Classic
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / Digital Hardcore
Tiago Araujo

Graduando em História. Gosto de música, cinema, filosofia e tudo que está no meio. Sou editor da Aquele Tuim e faço parte das curadorias Experimental, Eletrônica, Funk e Jazz.

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