Crítica | Moon Music


★★★☆☆
3/5

Em 2021, o Coldplay, inspirado na ideia de um sistema planetário fictício em que cada faixa representaria um dos planetas, lançou o álbum Music Of The Spheres. Essa ideia acabou tendo resultados ruins por causa do conteúdo genérico das faixas. Acompanhando essa esse tema, a banda retorna com Moon Music. Aqui, eles parecem fazer um esforço maior para construir essa proposta relacionada com o espaço de maneira mais intrigante.

Para isso, eles trabalham com dois nomes que se fizeram presentes nas visões artísticas mais curiosas de Coldplay: Brian Eno e Jon Hopkins. O toque dos artistas incorporam referências fortes do ambiente, gênero no qual Brian Eno se concretizou como uma de suas maiores forças.

Apesar disso, não é o suficiente para mascarar a atual mediocridade de Chris Martin, que parece ter estagnado em sua criatividade e na maioria das vezes apenas recria aspectos já recorrentes na carreira do Coldplay. A primeira faixa, "Moon Music", já é um excelente exemplo de como, mesmo com o apoio criativo de excelentes artistas, entre eles uma das figuras mais vanguardistas da música, as ideias apáticas da banda continuam fortes. Essa abertura se baseia em grande parte nas influências de Jon Hopkins e Brian Eno no disco, com mais da metade sendo tomada pelo ambiente. Ainda assim, Chris Martin traz o tom motivador que marca alguns de seus trabalhos, que aqui transformam a música em algo que poderia ser uma trilha sonora genérica para um vídeo emocional ou motivacional que seria facilmente compartilhado incansavelmente no Facebook e em grupos familiares de WhatsApp.

Se isso já fosse ruim o suficiente, as próximas três músicas são ainda piores. “feelslikeimfallinginlove” é uma música synthpop fraca que não só é superficial, como também tem melodias extremamente anêmicas. “WE PRAY” apresenta ideias musicais repulsivas e muito banais. Ela traz a proposta, que quase sempre dentro da música pop foi falha, de “world music”, que busca abraçar uma grande diversidade de culturas em uma faixa ou um álbum, se desenvolvendo a partir de uma estrutura grandiosa, não só melodicamente, mas também instrumentalmente, com suas orquestras que tentam potencializar essas emoções ao lado de uma percussão imponente, tudo isso junto com a mistura de culturas, trazendo referências da África, da cena hip hop do Reino Unido e da música clássica europeia. O problema na verdade está justamente aí: Chris Martin se esforça demais, e é ridículo porque não é tão natural. “JUPiTER” remete ao pós-britpop que marca os primeiros trabalhos da banda, apesar disso, o gancho é insuportavelmente ruim.

O disco mostra, de fato, seu maior potencial a partir de “RAINBOW” — estilizada dentro das plataformas digitais como “🌈”. É um dos melhores produtos do acompanhamento de Brian Eno e Jon Hopkins no processo criativo do registro. O ambiente com texturas curiosas se encontram com aspectos do post-rock, que juntos constroem uma atmosfera sonora apaixonante. Melhor que essa em relação a incorporação da música ambiente, apenas “ONE WORLD”. A construção de uma atmosfera etérea é excelentemente executada aqui, condensando o pop com esse som mais meditativo. Na última seção da faixa, ela toma o ritmo de doo-wop vivido e radiante. Como momento final do álbum, ela soa como a lua saindo para amanhecer o dia. Essa sensação é tão bem expressa que faz o ouvinte realmente sentir-se como se estivesse acordando de uma ótima noite de sono — é o momento mais belo de Moon Music.

Fora isso, a segunda metade do álbum é onde encontramos outro dos melhores resultados, apresentando um estilo que diverge do que a banda havia feito no passado. “AETERNA” traz um house que dialoga muito bem com o conceito espacial da obra; “ALL MY LOVE” relembra o pós-britpop do início da carreira do Coldplay, agora, diferentemente de “JUPiTER”, de forma muito efetiva.

A acústica e a orquestra, que são notáveis ​​na instrumentação do gênero, aqui fortalecem as emoções das melodias, que, apesar de trazerem clichês comuns, funcionam positivamente pelo forte apelo emocional. No geral, o álbum entrega algumas das melhores músicas da banda em anos, mas também algumas das piores, nas quais fica claro como Chris Martin parece incapaz de superar seu declínio artístico, mesmo com o apoio de excelentes produtores e compositores.

Selo: Parlophone, Atlantic
Formato: LP
Gênero: Pop
Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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