Crítica | MURIO LA MUSICA


★★★☆☆
3/5

Quando se pensa em música experimental, um álbum com uma capa pós-moderna (o que, na prática, significa quase nada, mas você entendeu do que estou falando) surge. No geral, são bons discos que desafiam as noções modernas do que é música muito bem, normalmente por meio do uso e desuso das mais variadas técnicas de manipulação e confecção de áudio. No entanto, são registros um tanto… previsíveis. Parcialmente, ao menos.

A maioria vem do mesmo lugar intelectual, querendo provar um ponto de forma genial, inovadora; é uma luta eterna para querer se destacar. Uma manifestação disso é a repetição de técnicas, lógicas e significados já usados e abusados enquanto falsa promessa do futuro — mais uma guerra para saber qual música pode ganhar o prêmio NerdMusical de “wow, isso é realmente bem maneiro, e experimental!”. Por outro lado, muitos artistas apenas humildemente integram parte do grande esquema pós-moderno de destruição musical (o Bandcamp, eu acho), compreendendo a insignificância de tudo isso. Mas isso não vem ao caso.

Tendo o que foi dito em mente, volte lá em cima e contemple, bem rapidinho, a capa do disco. Feito? Bom. Agora, vá até lá em cima de novo (perdão por dar trabalho) e marine, um tantinho de nada, seu cérebro no título do álbum. Feito? Ótimo. Lindo. Perfeito. É a coisa mais bonita do mundo, né?

Um álbum como MURIO LA MUSICA é a quebra perfeita da chiquérrima seriedade da música experimental; precisamos dessa falta de compromisso. AgusFortnite2008 (sim, você leu certo) simboliza que existem inúmeras formas de resistência à música padronizada e que nenhuma é mais válida ou mais importante que a outra. É completamente possível destruir a música como entendemos por meio do reconhecimento da inutilidade, do exagero, e, principalmente, da renúncia da originalidade.

Ora, por que não exagerar tudo ao ponto da paródia de si mesmo virar uma paródia? Por que ter medo de ser ridicularizado ou não ser levado a sério? Ninguém leva ninguém a sério, é o século XXI! Não há porquê em não tomar o caminho da antidisciplina, da negação das regras, da resistência musical por meio da sujeira. Poucas rotas são mais louváveis, interessantes e verdadeiramente diferentes quanto essa.

A liberdade total é aquela em que aquele que é livre pode escolher os mesmos caminhos todas as vezes sem ter um pingo de culpa (oi, Nietzsche!). Esse é o ensinamento que o grande sábio da montanha AgusFortnite2008 — e todo o movimento chiefkeefiano do “trap underground”, que não é muito mais que uma falha no Brasil — nos passa. Infelizmente, essa vai para os argentinos. Ou felizmente, também, não sei quem está lendo isso. Oi, Argentina!

Selo: DALE PLAY
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Plugg, Jerk

Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

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