Crítica | sonhos que nunca morrem


★★★☆☆
3/5

Virou algo engraçado, e muito sociável, declarar amor pelo shoegaze, ou mesmo proclamar o gênero aos quatro cantos da internet. Afinal, é assim que a moda se torna, em alguns casos, absoluta. Ainda que o gênero exista há vários anos, somente agora ele foi cooptado pela roda da melancolia musical que sempre acaba pegando algum estilo diferente para si – foi assim com o R&B dos anos 2000, as bandas emo do final dos anos 2000 e início dos anos 2010, e até o hip hop/trap de meados dos anos 2010 e início dos anos 2020 – quem nunca se perguntou do que se tratava o #SadBoy?

Essa mesma característica de associar a tristeza ao som mais abrangente que possa representá-la, além daqueles que já existem ou que são impulsionados do nada (como é o caso aqui), torna as bandas e artistas imersos nessa sonoridade palatáveis, acessíveis e, às vezes, mais visíveis do que nunca. Aqui no Brasil temos algumas delas, como terraplana, gorduratrans, Lupe de Lupe e, mais recentemente, Adorável Clichê, uma banda que já vinha trilhando seu caminho há muito tempo, mas que só agora, com o álbum sonhos que nunca morrem, talvez tenha chegado ao gosto central tanto do revival do shoegaze quanto dos fãs que recebem de braços abertos qualquer nome que venha dessa liga que mistura sentimentos e música triste como forma de representação de um estilo de vida.

sonhos que nunca morrem acaba correspondendo mais do que deveria a essas questões. É como se o motivo do álbum ser um atrativo fosse o fato de ele recompor o rastro de características que o shoegaze fez seu nos últimos tempos. E isso não é um erro da banda ou da forma como o álbum foi concebido; é o próprio público que fortalece essa conexão que acaba refletindo parte desse apelo nostálgico que, na verdade, a banda acaba exacerbando na hora de fazê-lo. Momentos como “devagar” evocam letras e melodias perfeitas para caber em stories e reels de viagem postados no Instagram, onde o cerne da transmissão é a passagem do tempo ou os reencontros com amigos e amores e todos esses ornamentos que fazem parte dos temas aqui adotados.

É positivo porque é uma criação brasileira no shoegaze ao lado de outras abordagens mais dispersas, como o dream pop e o indie rock, mas é muito focado na força externa que recai sobre uma fórmula pop que pouco faz para ir além. E talvez por isso soe indiferente em sua órbita de regionalização criativa — é apenas o som adaptado, traduzido e ajustado a um contexto brasileiro e pronto. É o produto perfeito para quem quer ouvir algo tocante e não quer recorrer ao que já soa exaustivo lá fora.

Selo: Balaclava Records
Formato: LP
Gênero: Rock / Pop, Shoegaze
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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